quarta-feira, 11 de março de 2009

A geração mais idiota é a geração que vai mudar o mundo

“Hey, idiota. Se és um adolescente ou tens menos de 30 anos fazes parte da Dumbest Generation (Geração mais idiota) e a razão é a Internet. O crescimento digital está a impedir o desenvolvimento do teu cérebro. A vossa não geração não sabe ler, escrever, comunicar. Vocês não sabem nada.Pior que isso, estão viciados na internet, colados ao ecrã e perderam a capacidade de interacção social. São igualmente uma geração obscura, desrespeitam os vossos pais, roubam, violam direitos da propriedade intelectual dos indivíduos sem consideração pelos direitos de autor de músicas e outros conteúdos. São violentos e um bando de rufias. São a geração que não se importa. Não votam, não se preocupam com a vossa narcísica eu-geração. Tudo aquilo com que se preocupam é o vosso MySpace, Youtube e Facebook. E por causa de vocês o futuro não traz consigo esperança. O meu nome é Don Tapscott e conduzi uma investigação sobre a vossa geração, um projecto de investigação no valor 4 milhões de dólares. Concluí que todos os críticos da vossa geração estão basicamente a inventar esta informação. Esta visão negativa e cínica não é suportada por dados. Vocês não são a geração mais idiota, são a geração mais inteligente. E assim que se desloquem para cada instituição e sociedade, serão uma poderosa força para a mudança, mudança essa para melhor. Espero que considerem o meu livro,Grown up Digital como uma fonte esclarecedora neste assunto e convido-vos a visitarem o site: grownupdigital.com, gostaria de saber a vossa opinião sobre este assunto.

Don Tapscott tem dado dos contributos mais interessantes para a compreensão da revolução digital e, mais do que isso, da mudança que está a provocar na humanidade aos mais diversos níveis, económicos, políticos, culturais ... you name it. Tapscott estuda os "nativos digitais" desde 1997 e tem uma colecção de dados e de trabalho como poucos. (Diga-se em abono da verdade, que também como poucos tem a felicidade de ter um generosíssimo orçamento que financia as suas pesquisas).
Este vídeo surge como resposta ao livro The Dumbest Generation ou Don't Trust Anyone under 30, de Mark Bauerlein, uma espécie de arqui-rival da Tapscott e profundamente descrente dos méritos da Google-generation, ou seja todos aqueles que têm hoje entre 12 e 30 e que não lêem, scanneiam informação, não vêm publicidade, trocam posts nas redes sociais, não compram CDs ou filmes porque pirateiam.
A estória de Joe O'Shea que Tapscott contou em Lisboa aquando do lançamento do Ano Europeu da Criatividade e Inovação deixaria decerto os mais cépticos com algo em que pensar.
Segue-se excerto que poderão ver tal como toda a conferência na íntegra no site Criar2009 e claro, a partir de Abril, no Videonomics TV.

"Estava a fazer um discurso para um pequeno grupo de alunos do curso de gestão da Universidade da Florida, em Junho passado. E eles estavam a pedir conselhos sobre como construir uma universidade para o século XXI. Disse-lhes que o modelo de aprendizagem era inapropriado para esta geração. Eles cresceram interagindo e colaborando e o modelo de difusão da aprendizagem está a falhar. (...) Estávamos a ter esta conversa e havia um jovem que estava na sala, Joe O’Shea com uma boa apresentação, usando uma gravata, que estava a formar-se nesse mesmo ano cujo comentário é requisitado. E o Joe disse: “Tenho de concordar. Acho que nós aprendemos de uma forma distinta. Vou dar-vos um exemplo. Eu não leio livros.” O ar de espanto no rosto de toda gente era semelhante ao de todos vós nesta sala. Ele disse: “Eu acho que sei aquilo que os livros contêm, mas eu não os leio. Recorro à internet para obtenção de conhecimentos e em caso de necessidade de um livro físico recorro ao Google Books e procuro o capítulo específico. E caso tenha um livro físico eu não o leio do princípio ao fim, utilizo a mesma estratégia usada nos websites".
O reitor da faculdade que se encontrava ao meu lado perguntou-se se isto significava algo bom e positivo ou o fim da civilização. Eu tinha um charter reservado para Fort Lauderdale e o Joe seguia para o mesmo local. Assim sendo, convidei-o para se juntar a mim para que pudéssemos conversar e para que eu tivesse a oportunidade de o conhecer melhor.
“Joe, fala-me da escola? És um bom aluno?” e ele disse: “Sim, sou um bom aluno”, eu perguntei: “quão bom?” ao que ele respondeu “sempre tive A’s”. Eu disse: “Que mais é que fazes?” e ele respondeu: “Sou presidente do conselho de alunos na Universidade do Estado da Florida”. E eu disse-lhe que deveria ser uma grande responsabilidade ao que ele respondeu que tinha ao seu dispor um orçamento de 12 milhões de dólares e um comité envolvendo 18 universidades. Eu perguntei-lhe se ainda tinha tempo para fazer mais alguma coisa ao que ele respondeu que após o furacão Katrina tinha viajado até lá para ver os estragos feitos; foi assim que se apercebeu da ausência de uma clínica de saúde e decidiu montar uma. Perguntei-lhe o que isso significava e ele disse que se poderia fazer tudo o que se quisesse quando se tem a internet. Se quisesse um ar condicionado poderia ter um ar condicionado. Perguntei se a clínica ainda estava operacional e ele respondeu que sim e que consultava 9 milhões de pessoas por ano.
Seguidamente, pedi para que me falasse da sua família. Ele disse que era um assunto delicado dado que os seus pais haviam falecido no ano passado sendo que Jon enquanto irmão mais velho tinha como obrigação manter a família unida. Perguntei-lhe como o fazia sendo que viviam em cidades diferentes ao que ele respondeu que todos jogavam WOW juntos, faziam missões juntos, matavam dragões conjuntamente.
Após isso, perguntei-lhe o que faria no ano seguinte e ele disse que iria estudar em Londres, Inglaterra (...) perguntei-lhe o que iria estudar ao que ele respondeu que se encontrava a fazer um mestrado em Filosofia. E não lê livros. Quis saber em que universidade e ele disse que iria para Oxford. O local de mais difícil acesso em todo o mundo para se fazer um mestrado em filosofia. E ele conseguiu! Quis também saber se estava a receber alguma ajuda financeira e ele disse que tinha uma bolsa de estudo que cobria tudo. Uma “Rhodes Scholarship”. A Rhodes Scholarship é a mais prestigiada bolsa de estudo que um aluno pode obter no planeta Terra. O Bill Clinton teve uma. E única Rhodes Scholarship do sudoeste dos EUA foi dada a um jovem, Jonh O’shea, um jovem de 20 anos que não lê livros.

Tapscott terminou a sua conferência em Lisboa dizendo que os próximos tempos não serão aborrecidos. Alguém duvida que ele tem razão?

2 comentários:

Anónimo disse...

É realmente tentadora esta ideia de apelidar a actual geração de "geração mais idiota". Assim como também é tentador dizer o contrário focando um exemplo excepcional (caso do Joe O'Shea)!!
Os jovens de hoje têm ao seu dispôr ferramentas poderosíssimas para criar, inovar, reinventar, ... só precisamos de os encaminhar na direcção certa. Infelizmente, acredito que vamos ter um mundo cada vez mais a duas velocidades: o dos que aproveitam essas ferramentas e o dos que não.
Enquanto professor, preocupam-me algumas (não todas) atitudes que vejo passarem por mim frequentemente... No entanto, estamos perante uma nova forma de construir a sociedade e, também, a personalidade das pessoas.

Aproveito para dar os parabéns pela ideia e pelo blog. Vou continuar a seguir...

Anónimo disse...

Ontem, navegava na net e entrei no site do ano europeu da Criatividade e Inovação. Porque vou começar a dar aulas de integração e tenho o tema Cidadania Europeia. Como 2009 é o ano da Criatividade e Inovação acho que faz todo o sentido começar a "matéria" precisamente por aí. Deparei-me com o vídeo e resolvi ver um bocadinho. Acabei por ficar "presa" e vi e ouvi a palestra do Taspcott na íntegra. Ainda bem que a vi. Estou farta dos panoramas negros e catastróficos que veículam por aí. Continuamos a ser tecnófobos, como tal senhor que escreveu a Dumbest Generation. Não percebem que temos ferramentas e oportunidades que nunca antes tivémos? Não percebem o que se pode fazer com isso? Não percebem o potencial de mudança, em termos de trabalho, aprendizagem, colaboração e comunicação? Eu sou mais velhinha que a smartest generation e não sou muito "digital". Porque não cresci a utilizar a net e os computadores e os telemóveis e os sms. Tenho alguma dificuldade. Mas não tenho medo deles. E compreendo o valor que têm para o nosso desenvolvimento. Compreendo o que o Tapscott diz de trabalhar e aprender e divertir ser a mesma coisa. Infelizmente nem todos têm essa sorte porque em muitas empresas e entidades ainda não demos o salto da 2ª para a 3ª vaga, conforme nos explica Alvin Tofler nos seu livro "A Riqueza das Nacções" que eu sugiro aos interessados por estas coisas que o leiam ou que, como o Joe O'Shea, conheçam o que o livro diz, através do google books.