segunda-feira, 15 de junho de 2009

Quando não sabemos ganhar ... temos de perder para voltar a vencer



Na semana dos feriados fui assistir ao terceiro torneio de ténis do meu filho de 12 anos. Entrou este ano na competição, está motivadíssimo, não falta um treino, gasta a televisão a ver todos os jogos que pode, toma notas empenhadamente num caderninho e acredito que os momentos mais felizes da semana são quando entra no court. Ficou em 5º lugar no primeiro torneio que jogou, venceu o 2ª torneio contra um jogador 3 anos mais velho e foi assim que chegou a este 3º torneio, o primeiro fora de casa, jogando em St Julians. Como todas as mães e pais, não conheço melhor remédio para a ignorância mais profunda sobre um tema do que esse conhecimento ser importante para o nosso filho ou filha. E tem sido assim que tenho aprendido sobre ténis, ainda com muitas dúvidas sobre winner points, outs e aqueles diferenciais malucos que garantem ganhar finalmente uma partida.
Nesta quarta-feira, sentada ao lado da professora do meu filho, fui observando. O Miguel, assim se chama o meu tenista, tem boa condição física, lê bem a sua posição no terreno e, sobretudo, vive uma época de graça, de grande paixão pelo que faz. Tudo ajuda a que as coisas lhe vão correndo bem. Com um senão. O mesmo rapaz tenista que se desembaraça bem com adversários do mesmo nível, mas com menos técnica ou mesmo de nível superior, vai-se completamente abaixo ... quando está a ganhar. Estranho? Talvez não seja assim tanto. Numa das partidas deste torneio, aquela que o eliminou, a professora comentava baixinho: há pessoas que têm mais dificuldade quando ganham do que quando perdem. O meu filho é assim - acusa a pressão de estar a ganhar, ao invés de quando perde que até come areia se for preciso. Espero, atendendo a que é ainda uma criança, que vá muito a tempo de se conhecer melhor e de se vencer a si mesmo. Porque não há pior adversário do que nós próprios.
Hoje o Miguel faz anos e este vídeo, que é sobre empresas, gestão, mas sobretudo natureza humana, é também para ele.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Piratas no Parlamento Europeu


Há coisas estranhas e esta é uma delas. Estou a escrever este post pela terceira vez. Nunca me tinha acontecido. Ontem ecrevi o posto original - e desapareceu. Hoje reescrevi o post, quis publicar e deu erro, garanti a gravação nos rascunhos e ... desapareceu. Decerto há uma explicação, quando mais não seja que o Google não morre de amores pelos Piratas da Internet, tema deste artigo.
Mas vou reincidir, sabendo de antemão que quem escreve e reescreve perde sempre um ponto, algum ponto.
Saímos de uma noite eleitoral sobre eleições na Europa em que, uma vez mais, se conseguiu a proeza de não falar de Europa. Os poucos que, meritoriamente, introduziram o tema foi tão somente para mostrarem que tinha sido um não tema.
Mas, seguindo a máxima de Carl Sagan que a ausência de evidências não é a evidência da ausência, sabemos que a Europa continua lá, ou cá como preferirem.
Uma notícia de um país dessa Europa, a Suécia, constitui um bpm ponto de partida para olharmos mais de perto para esse tema enigmático que é a pergunta: porque não votam os eleitores?

O Partido dos Piratas, ligado ao "site" de troca gratuita de filmes e vídeos na Internet Pirate Bay conseguiu 7,1 por cento dos votos nas eleições europeias na Suécia, segundo resultados parciais, e irá então estar representado no Parlamento Europeu.

Ou seja, na Suécia, vários milhares de eleitores deslocaram-se do conforto dos seus lares e da sua vidinha até a uma secção de voto para eleger os seus Piratas.
Numa Europa em que, compreensivelmente, a maioria dos jovens entre os 18 aos 24 anos não esboça outro gesto que não de bocejo face ao tema eleições europeias, será importante perceber a idade destes votantes e talvez a partir daí enriquecer um pouco mais o debate.
Em rigor, deveríamos sentir algum orgulho deste gigantesco bocejo com os jovens brindam a classe política. É verdade que amarga a nossa memória da história e da luta de outros que já foram jovens como eles pelo direito a votar, a participar, a decidir. Mas, à luz da História de hoje, não deixa de ser um sinal senão de inteligência, pelo menos de de uma capacidade residente de não-identificação com o produto em que a geração política actual insiste em transformar a nossa vida em comum, a noss vida pública.
Em rigor, entre um jovem que despreza o debate europeu como se lhe é apresentado e os jovens da "juke box" do Paulo Rangel, como chamou Bruno Nogueira aos jovens "jotas" que se apressaram a fazer coro ao candidato vitorioso, colocando-se estrategicamente atrás do mesmo assim que as câmaras tv foram apontadas, alguém são de espírito pode ter dúvidas?
Aliás, valham os humoristas no nosso debate político porque senão também não teríamos saído do ar genuinamente ensaiado com que a classe analisa a abstenção de mais 60% e a indiferença dos eleitores. Acreditam mesmo que estão a falar com as pessoas, acreditam que à excepção do capital "insatisfação" (com tudo e com todos) conseguiram passar mais alguma mensagem? Valha por isso também a análise de Ricardo Araújo Pereira, em papel de comentador SIC, quando aludia à vitória do PSD como uma espécie de Taça da Liga. Ele que até é um benfiquista. Mas aqueles jovens atrás de Rangel estavam sem dúvida inspirados num qualquer derby futebolístico. Podemos mesmo levar a mal aos que bocejam?

A boa notícia, se assim o quisermos ver, é que Carl Sagan tem razão. Não há evidência de ausência de Europa, mesmo que falte quase tudo para fazer regressar o debate político, Europa incluída, à vida das pessoas. A eleição do Partido dos Piratas traz-nos de volta ao dia-a-dia. E no dia-a-dia há pessoas preocupadas com a qualidade da sua vida online, onde todos passamos cada vez mais tempo, pessoas empenhadas em estar contra ou favor do uso livre/roubo de conteúdos na internet, e há um partido que chega assim ao Parlamento Europeu. Porque tem a ver com a vida das pessoas, o que independentemente da justeza das suas propostas - que merecem em si mesmas outro debate - é um dado fundamental para todos os que verdadeiramente querem debate político e cidadãos que exercem cidadania.

Veja-se o blogue dos Piratas e vejam-se sobretudo os comentários:

Vote or die...
The 4-7th of june it's time for elections to the European parliament again. Some say it doesn't matter if you vote, some say it's just an election between a douche and a turd and all the politicians try to convice you that they all know whats best for you.

No matter what you think of the above, we have seen a lot of new very disturbing laws and directives from the EU these last years (telecom package, ipred, the data retention directive). Laws that each member country then are obliged to follow. So yes, it does matter who we elect! We at The Pirate Bay have our different political views and don't want to shove any politics down your throat, but we want you to vote! After all, it only takes a few minutes of your time. Please use the comments field below to explain how You will vote!
http://thepiratebay.org/blog/156

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Não queremos acreditar no que sabemos




Hoje em todo o mundo milhões vão poder ver Home, o filme de Yann Arthus-Bertrand sobre o impacto que a actividade humana está a ter no planeta. Filmado ao longo de 3 anos, Home - ou Maison, como no seu francês original gosta de dizer - é uma "história fantástica da vida na Terra". Na sucessão de imagens, é o tempo que nos faz pensar. As montanhas, os rios, as plantas, estão cá há milhões de anos. Os humanos há não mais que meros 200 mil anos. E, no entanto, este é um filme sobre os homens. os homens no seu habitat. Os homens como causa primeira e fim última do debate sobre a vida no Planeta.
São imagens captadas lá do alto - uma sequência lógica do trabalho fotográfico de Yann Arthus-Bertrand, com a série de fotografias "A Terra vista do Céu". Romanticamente ou talvez apenas humanamente, é irresistível pensarmos que também se trata de uma forma de termos um olhar divino, criador, sobre a vida no planeta.
Um filme que procura mostrar que aquilo que nos une é bem mais forte do que aquilo que nos separa - e é por isso obrigatória uma visita ao site 6billionothers.org, onde o realizador-fotógrafo compila milhares de entrevistas, a milhares de pessoas em todo o mundo e não podemos deixar de ficar abismados com essa proximidade do que somos, do que nos marca, do que nos faz felizes.
O filme foi distribuído gratuitamente, não tem copyright e é hoje, dia 5 de Junho, dia do Ambiente que poderá ser visto em todo o mundo
"É tarde demais para ser pessimista. Somos todos parte da solução", diz Yann Arthus-Bertrand.

Em Lisboa, Home pode ser visto hoje, 5 de Junho, às 21 h, na Praça Luís de Camões em Lisboa e estará em exibição nos vários cinemas ZON Lusomundo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Previsivelmente irracionais ou porque por vezes achamos que não faz mal mentir e enganar



As notícias do último ano sobre fraudes financeiras, gestores que enganam clientes e accionistas, processos pouco claros de relação com o mercado colocaram a questão ética na ordem do dia. A verdade, porém, é que se todos temos presente que é fundamental fazer um "back to basics" em termos de princípios de actuação, nem sempre, na realidade endurecida pela crise, essa orientação é facilmente seguida. Ser ético significa, tantas vezes, fazer aquilo que nos apetece menos.
Há alguns dias, um membro da comunidade Linkedin colocava à consideração um artigo sobre um estudo em que 25% dos gestores afirmavam estar dispostos a subornar para ganhar um cliente ou um negócio. Ao comentar o artigo, referi que me parece difícil que se passe, num passo só, do estado "ético" ao estado de suborno. O que significa que no caminho deverão certamente ter existido passos intermédios e que algumas culturas organizacionais, em nome do pragmatismo, estimulam esses passos intermédios ... ficando depois muito espantadas quando alguém vai, como se costuma dizer, longe demais.
lembrei-me então de um email que me tinha sido enviado há umas semanas sobre uma das TED Talks. Um economista do comportamento, Dan Ariely, fala nesta conferência sobre as nossas decisões previsivelmente irracionais. Como a de fazer batota. E, através do relato de várias situações e experiências, demonstra algumas evidências:
1. Todos precisamos de olhar ao espelho e gostar de quem vemos (o que inclui não fazer batota)
2. Mas se fizermos apenas um pouquinho de batota isso não muda radicalmente a nossa imagem (é um passo intermédio)
3. Se alguém do nosso grupo fizer batota, torna-se mais fácil também para nós fazer batota (o que tem a ver com a cultura organizacional)
4. Quanto maior foi a distância do objecto do dinheiro, mais fácil se torna fazer batota (daí que a Bolsa, pela sua imaterialidade, seja um território tão apetecível)
5. Quando nos lembram dos princípios morais, fazemos menos batota (o que implica que a ética é uma coisa viva, do dia-a-dia e não uma palavra guardada nos grandes momentos)

Por tudo isto, vale a pena ouvir esta conversa, com momentos de grande diversão e que nos leva até àquele espaço recôndito do nosso cérebro onde decisões aparentemente irracionais encontram toda a legitimidade para serem assumidas.