sexta-feira, 24 de abril de 2009

Porque hoje é sexta-feira - Abençoados os que sobre-vivem (o hífen não é por acaso)

A apresentação da 1ª turma de finalistas do Magellan MBA decorreu na semana que passou, na EGP-UPBS. Belmiro de Azevedo nivelou, sempre por alto como é seu hábito, as expectativas e os desafios que esperam os recém-MBA no mundo real e teve lugar uma apresentação em vídeo de cada um dos alunos, resumindo em 1 minuto quais as suas principais qualidades e objectivos profissionais.

A fechar, um debate que juntou à mesa o CEO da Cisco, Carlos Brazão, o CEO da Wipro, António Murta e que foi moderado pela sempre assertiva e atenta jornalista Luísa Bessa.

O formalismo dos debates não poderia ter sido mais rapidamente desfeito do que com este vídeo que Carlos Brazão tratou de colocar no ar logo a abrir.
Estes somos nós, ou estes somos também nós. Homens e mulheres, gente que tem medos, que arrisca, que hesita, que aposta, que é séria, mas que tem sentido de humor. Gente que sobrevive.
Há pouco tempo ofereci a uma amiga que fez 40 anos, essa idade outrora emblemática e hoje pouco definida, uma prenda por causa de uma frase: "Future is what remains". Ou, se preferirem, o futuro é dos que continuam o que também quer dizer que sobrevivem, no melhor dos sentidos.

Espero que se divirtam.

P.S. - O tema da conferência não fica por aqui. Carlos Brazão e António Murta deram um verdadeiro show de gestão "terra a terra" e vamos voltar a eles aqui no Videonomics.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sobre amadores e campeões

Já se escreveu quase tudo sobre Tomaz Morais, os Lobos, e a estória de liderança que permitiu a um grupo de amadores sem dinheiro chegar aos grandes palcos da modalidade. Portanto, lapso meu, que ainda não tinha ouvido, ao vivo, o seleccionador nacional de rugby. Uma lacuna resolvida mediante o acompanhamento que o Videonomics está a realizar, entre 16 e 17 de Abril, ao Fórum RH 2009. Como foi a primeira vez que assisti a uma palestra de Tomaz Morais, não sei se nestes eventos para os quais tem sido solicitado ele é mais igual do que diferente ou o inverso. Mas sei que para mim, estreante, existiram coisas novas e coisas que constituem excelentes pistas para várias realidades das empresas e cada um de nós enquanto gestor da sua própria vida.
“A liderança acontece quando a equipa vai comigo para a guerra. Mas eu não sou sempre líder, porque não se trata de uma função. Posso ser líder neste momento e não o ser no momento seguinte”. Já todos fomos certamente liderados e muitos de nós, se não todos também, já lideraram em algum contexto. E de facto “ir para a guerra com alguém” é o melhor testemunho de mobilização e de capacidade de influenciar que se pode ter. Mas ninguém é super-homem, as equipas não são iguais, os contextos não são iguais, nós não somos sempre iguais. Entender a profunda humanidade do acto de liderar é o princípio primeiro, passe o pleonasmo, de exercitarmos esse músculo invisível da motivação. Que começa em nós mesmos.
“O adversário é a melhor coisas que nos pode acontecer. Porque nos obriga a dar o melhor de nós próprios. Muitas vezes o problema é que estamos mais preocupados em eleger um adversário dentro de casa, dentro da nossa própria equipa, do que lá for a. Se nos concentrarmos no adversário real, as nossas possibilidades sobrem significativamente”.
Esta é a triste novela de tantas empresas, equipas e projectos. Excelentes ideias, óptimas pessoas, resultados desastrosos ou pelo menos aquém do que poderiam ser pela simples razão que a energia foi gasta a combater homem a homem dentro de casa, deixando campo livre ao adversário.
“Um líder para ser líder tem de despertar a curiosidade. As pessoas têm de sentir que têm algo de novo a aprender ou para fazer com ele, têm de estar interessadas no que tem para lhes trazer. Se tenho jogadores a olhar para o chão enquanto falo estamos mal. Ganha-se olhos nos olhos e ninguém motiva ninguém por email”.
Gerir pessoas é cansativo e trabalhoso. Podemos usar todos os chavões da gestão e, no fim do dia, continuará a ser cansativo e trabalhoso. Mas só conseguimos ganhar com as pessoas a irem para a guerra connosco e as pessoas só vão para a guerra com alguém que conhecem, acreditam e com quem estabelecem contacto, emocional, pessoal. Gerir à distância, gerir pelos manuais, gerir por interposta pessoa é o pior dos erros. E aquele que nos impede de, depois de muito trabalho e algum cansaço, dizer na hora da vitória que, apesar de tudo, as pessoas continuam a ser o melhor do mundo.
Tomaz Morais falou ainda das decisões por intuição. Aquelas em pensamos sem pensar e que, culturalmente, foram injustamente desvalorizadas em décadas de pensamento analítico. Felizmente também aquelas que o avanço da neurociência nos tem vindo a mostrar são tão válidas senão mais válidas do que as apoiadas em números e factos. O que o nosso cérebro intui sem ter de analisar tem um valor precioso. Ler Damásio e Gladwell ajuda, por vias diferentes, a perceber porquê. Mas há que ter coragem de decidir por intuição. Como Tomaz assume que faz quando chega a hora de escolher quem vai entrar em campo.
Por último, e poderia vir em primeiro, estão os nossos valores. Aquilo em que realmente acreditamos. Vários excelentes profissionais, alguns deles gestores e líderes de equipa, em determinado momento foram vencidos pela manipulação e pelo jogo for a de campo. Acontece, desmoraliza, mas é um facto da vida. Outros profissionais, igualmente excelentes, são vencidos por uma unha negra, um erro de cálculo ou simplesmente porque o adversário era de facto melhor. “Podemos perder o jogo por um ponto, mas temos sempre hipótese de ganhar o próximo se não perdermos os nossos valores, aquilo em que acreditamos”.
Quem em nada acredita, mesmo quando ganha, continua a ser apenas e tão somente isso mesmo: uma peça que funciona, mesmo que nas regras erradas. Para os outros todos, que acredito são a maioria de nós, vale a frase que Tomaz Morais dirige aos treinadores adversários quando perde o jogo: “para a próxima é nossa”.

Santos e Gestores

As organizações do 3º sector estão cheias de santos. Mas ser santo não chega para fazer o bem e é por isso que a profissionalização da responsabilidade social deve ser uma prioridade. E os santos devem procurar gestores que os ajudem a fazer o bem de forma eficiente. Com a clareza que a caracteriza, Isabel Jonet, do Banco Alimentar, disse-o assim, com as letras todas, no Fórum RH 2009 que hoje e amanhã decorre no centro Cultural de Belém. É difícil ficar indiferente quando se ouve esta senhora falar. Não se trata apenas de ter obra feita. É, antes de qualquer outra coisa, uma abordagem absolutamente convincente de não-deslumbramento com capacidade de sonhar. Que, como é bom de se ver, não são opostos, pelo contrário. “Tem de existir equilíbrio no que se faz. Não faz sentido ver acções de voluntariado com senhores muito bem vestidos, de fato e gravata, bom relógio, a saírem de excelentes BMW ... na Cova da Moura. Não é pelo carro ou pela marca ... é o desequilíbrio dessas situações”. Que, como acabaria por acrescentar, não são exclusivas da exibição material em contexto de pobreza. Também os jovens, com a energia que lhes é própria, muitas vezes estão em “des”-contexto. “Muitas vezes as pessoas querem mudar o mundo à sua maneira, sem olhar à cultura da organização ou do meio”. A mesma cultura que fez, por exemplo, com que recusasse uma campanha de publicidade proposta ao Banco Alimentar, tecnicamente muito boa, mas em contra-valor com a forma como a organização actua e se posiciona. “As nossas campanhas sempre se centraram nos voluntários. É assim que nos queremos apresentar. Não temos o direito de usar os pobres como tema de marketing”.
Num ano em que todos os orçamentos são curtos, Isabel Jonet não pestaneja quando diz que “a principal responsabilidade social das empresas é manter o emprego; porque se houver mais desempregados há mais pobreza”. Já o Estado, recomenda, deveria prestar outro tipo de atenção ao 3º sector: “este é um Estado cego que não premeia as boas práticas. Já é tempo de existir uma certificação das organizações do 3º sector, porque este não é mais um mercado onde o importante é ganhar dinheiro”.
Isabel teve uma audiência comovida e incomodada, como alguns dos presentes não se inibiram de confirmar. Estas coisas incomodam, de facto, sobretudo porque a crise que vivemos torna impossível que não nos lembremos, mesmo que apenas de vez em quando, que há que fazer mudanças. “O único elemento que pode mudar as sociedades é o ímpeto dos jovens ... não devemos ter medo dos novos; devemos aprender com eles e estar dispostos a ensinar o que já sabemos”.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Everywhere you go, you always take the weather with you

Lembram-se da música?
Parece demasiado ligeiro lembrarmo-nos de uma pop quando o tema são alterações climáticas, mas a frase deste refrão é certeira. Ninguém escapa. Logo, tem mesmo de ser uma prioridade porque não temos como nos esconder do clima e a dimensão do problema é, de facto, planetária e não meramente um problema isolado ou localizado.
Antes de falar da conferência BES – Futuro Sustentável que este ano trouxe a Portugal Rajendra Pachauri, prémio Nobel da Paz em parceria com Al Gore e presidente do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), sinto que o tema exige um disclosure. Não sou uma ambientalista nata. Porque gosto de me mobilizar, durante algum tempo senti-me defraudada comigo própria pelo pouco entusiasmo que o “discurso verde” me suscita. A reconciliação comigo mesma e a consequente capacidade de mobilização para um tema que, seja numa versão maximalista ou minimalista é seguramente incontornável, só aconteceu quando me recordei da minha relação com a ciência. Sempre fui boa aluna e sempre tive curiosidade por saber mais. Durante anos hesitei entre as ciências sociais e humanas. Em certa altura desabafei com um professor de biologia que já não aguentava mais ter de saber detalhes sobre a reprodução das plantas ou estômago dos coelhos. Não me conseguia mobilizar. O professor que era experiente e que já me ensinava há 2 anos não se mostrou minimamente melindrado com a confissão e tratou de me animar: “deixa lá, para o ano o animal que estudamos é o ser humano”. Percebi nessa altura, com cerca de 12 anos, que o meu foco de interesse estava nas pessoas e que só através delas me conseguiria interessar pelo meio ambiente. E na sustentabilidade, mesmo para aqueles que como eu são mais insensíveis aos documentários sobre a natureza, há um bottom line que nos toca a todos: isto tem a ver com o nosso futuro enquanto gente, enquanto espécie e essa é uma razão egoísticamente inadiável para que tudo o resto se torne prioritário.
“A humanidade não se encontra num cruzamento, onde tem de optar entre virar à esquerda ou à direita. A humanidade está, neste momento, à beira do precipício e a questão que se coloca é saber se consegue ou não inverter a marcha e evitar cair”. Rajendra Pachauri, o Nobel vegetariano que logo no início da conferência nos lembrou que são precisos 10 quilos de cereais para produzir 1 quilo de carne, colocou o problema das alterações climáticas com este nível de urgência. O mesmo que o leva a defender que só criando uma “sociedade sóbria” onde os recursos são valorizados e o consumo reduzido poderemos evitar essa atracção do abismo até ao desfecho final.
Durante cerca de 1 hora, Pachauri desfilou um conjunto de estatísticas que já ninguém pode dizer que não conhece. 1,2 mil milhões de pessoas a viver com menos de 1 dólar por dia no mundo, 1,6 mil milhões de pessoas a viverem sem acesso á electricidade, 700 milhões de pessoas a viverem sem acesso a água (número que pode ascender a 3 mil milhões em 2025), crescimento populacional, urbanização, aumento do consumo de carne, cereais e lacticínios decorrente da entrada de países como a China e a Índia no padrão de consumo ocidental, aumentos previstos da temperatura média entre 1,8ºC e 6,4ºC (sendo que basta um aumento entre 1,5ºC e 2,5ºC para que aconteça a extinção de 20 a 30% das espécies actuais).
Com o aumento da temperatura e a subida do nível das águas, o Ártico, África, as ilhas pequenas, América Latina e o sul da Ásia são regiões especialmente afectadas. O fardo do homem branco vira-se agora do avesso. O rico hemisfério Norte prevalece como “zona protegida” da primeira frente da intempérie climática/ambiental, mas não escapa às consequências humanas de grandes fluxos migratórios, pressão sobre a terra e consequências inevitáveis na vida das sociedades. A sustentabilidade, como já sabia o meu professor de ciências, atravessa toda a cadeia. Tem a ver com os bichinhos, com as plantas, com o ar, mas inexoravelmente bate sempre à porta do destinatário homem.
Uma sociedade mais sóbria. Menos consumo. Menos lixo. Melhor energia. Uma nova ideia do que significa bem-estar. Foi disto que Rajendra Pachauri veio falar a Lisboa. O que é que se faz quando estamos à beira do precipício?
Trava-se – mas não chega. É mesmo preciso fazer inversão de marcha.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Quantos dias de sol teve no último mês?

Faça você mesmo o teste. Pense no último mês e escreva num papel de quantos dias de sol se lembra. Depois compare a sua resposta com a tabela meteorológica desse mesmo mês. Se há mais sol na sua vida do que nos registos do clima, está provavelmente no grupo das pessoas que se consideram satisfeitas com a vida que têm. Como os dinamarqueses, por exemplo. Se, pelo contrário, o sol que chegou até si nos últimos 30 dias é inferior ao sol real do local onde vive, não está assim tão satisfeito e tem algumas probabilidades de ser português e lisboeta. Robert Manchin, director da Gallup Europe e autor do estudo “Soul of the city – Perceptions on Lisbon”, fechou assim com chave-de-ouro a sua apresentação na conferência sobre qualidade de vida no âmbito da iniciativa Os Melhores Municípios para Viver, dinamizada pelo INTEC.

O estudo da Gallup sobre o capital emocional das cidades revela uma Lisboa onde as pessoas não têm níveis de envolvimento com a cidade. Uma cidade, por isso mesmo, menos feliz do que podia e merecia ser. Se associarmos a estes dados, o facto de que o principal factor de atracção das pessoas às cidades é a sua projecção no futuro, fica ainda mais evidente a urgência de criar uma nova “alma” para Lisboa. O que o estudo de Manchin mostra é que, sobretudo no que respeita às classes criativas – cada vez mais um alvo preferencial das cidades – imaginar o futuro é o principal elemento de atracção. E é por isso que Berlim, uma cidade com problemas de emprego e com uma integração recente, está no mapa das cidades favoritas destas classes criativas: quem lá está ou quem se sente atraído pela cidade olha com optimismo para a sua evolução nos próximos anos e acredita que será um melhor local para viver. Barcelona é o exemplo de uma cidade com a qual as pessoas têm um nível de envolvimento emocional completo, Londres está na graduação de “bom envolvimento” e o Porto é avaliado como uma cidade em processo de “descolagem”. Lisboa não tem simplesmente envolvimento emocional – está desligada.

Regressando a Lisboa. Os lisboetas até gostam da cidade. 45% afirmam que a cidade está a ficar melhor e 82% querem continuar a viver na capital portuguesa. Porém, quando se colocam questões mais do foro experiencial, os resultados não são assim tão animadores. Por exemplo, pergunta-se aos inquiridos de várias cidades se tinham vivido algo muito divertido no dia anterior. Em Toronto, 88% responde que sim, em Londres 75%. Lisboa não passa dos 58%. Pior quando a pergunta é “Ontem aprendeu alguma coisa interessante?”. Londres também desce para 55%, mas Lisboa vai aos 48%.
Ganhamos no sorriso: 71% dos lisboetas sorriu – ou mesmo riu! – no dia de ontem.

“Talento, inovação e criatividade foram, desde sempre, os elementos constituintes da alma das grandes cidades”, afirmou Robert Manchin. A satisfação de cada um com a vida que tem é historicamente baixa em Portugal. Não é produto do momento, tem sido uma linha de continuidade na vida dos portugueses. Somos igualmente um pais em que os dados mostram uma correlação entre dinheiro e felicidade fazendo jus ao dito popular “dinheiro não traz felicidade mas ajuda muito”. Encontrar outras razões para ser feliz, que não aquelas que decorrem do dinheiro, é por isso um tema cada vez mais na ordem do dia. A qualidade de vida, cuja construção não passa exclusivamente pela monetização, é por isso uma das apostas estruturais de mudança e alguns dos melhores municípios para viver, como Angra do Heroísmo, Santo Tirso, Albufeira, Portimão, Funchal, Cartaxo e São João da Madeira trouxeram excelentes ideias de como tornar paradigmas em realidades de todos os dias.