segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Há mais pessoas a quererem ser felizes do que ricas

Fim de Ano. Ano Novo. Esta é aquela época em que repetimos, tantas vezes de forma mecânica, votos de felicidade. Uma palavra pouco usada nos restantes dias do ano e que parecemos querer gastar, por esta altura, seja pela convenção, seja pela necessidade de lembrar algo de fundamental.
Em Harvard, Ben Shahar ensina Psicologia Positiva, mas quase todos apelidam a disciplina como "ciência da felicidade". A primeira questão que se coloca é mesmo essa, se podemos entender a felicidade como matéria científica. Cada vez mais estudos académicos, de áreas tão distintas quanto a biologia, a genética, a neurociência, a sociologia, a antropologia e a economia, dizem que sim. A diferença das aulas de Ben Shahar está na adesão dos estudantes de Harvard: mais de 1400 inscritos, o que faz da sua disciplina a mais procurada. Para o professor, a principal diferença no que ensina está na forma: "estabeleci uma ponte entre a torre de marfim das pesquisas académicas e o que se passa nas ruas com as pessoas de todos os dias". E como todos, até mesmo os cínicos, querem ser felizes, o tema tem um potencial universal.
Tão curioso quanto ouvir o professor é ler os comentários que a comunidade YouTube deixa neste vídeo. A eterna discussão sobre se o dinheiro traz ou não felicidade é o tema dominante e a pedra de toque para todas as outras vertentes. igualmente curioso é o facto de, nos estudos da ciência económica, não existir relação directa entre os países mais ricos e os países mais felizes, o que, no mínimo, relança a discussão sobre o papel do dinheiro e a procura de uma vida com a qual nos sintamos bem. (Ver Subjective well-being rankings of 82 societies based on combined Happiness and Life Satisfaction scores)
A felicidade é, sem dúvida, uma palavra que entrou na agenda política, económica e social e será um tema que o Videonomics abordará, nas suas várias vertentes, em 2009.
Ao ver este vídeo e ler as discussões nos foruns é quase impossível não me lembrar da definição de materialista que nos é dada no livro "O carteiro de Pablo Neruda": materialista é alguém que entre um frango e uma rosa, escolhe sempre o frango".
Haja frangos e haja rosas.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Só passamos 2/3 da nossa vida a trabalhar ... será mesmo tão importante ter empresas onde gostamos de trabalhar?

Recursos humanos. Capital humano. Talento. Que tal só "Pessoas"? São, sem dúvida, o que faz a diferença em qualquer empresa, organização ou projecto. E faz toda a diferença saber se são felizes com o que fazem, se respeitam as outras pessoas com quem trabalham, se olham para o futuro com optimismo. São sentimentos que não nascem de geração espontânea - exigem um trabalho fino, meticuloso e que nunca acaba. E como o diabo se esconde nos detalhes, exigem um permanente estado de alerta para poder intervir a tempo, corrigir rotas e ter as nossas pessoas de volta, no dia seguinte, com os tais bons sentimentos que fazem a diferença.
O que parece simples e quase trivial é, na realidade, uma tarefa bem difícil que exige o alto patrocínio de quem lidera uma epresa ou um projecto. Na parte operacional, exige equipas competentes, com aquele tipo de competências que não decorre do CV. Têm genuinamente de ser pessoas que ... gostam de pessoas, que acreditam na possibilidade de realização e que estão dispostas a trabalhar todos os dias para criar e difundir essa forma de olhar o mundo. Claro que cada empresa tem a sua cultura, os seus valores, os seus objectivos. Umas vão ser mais formais outras propositadamente descontraídas, umas vão ter mais níveis hierárquicos outras menos, Mas isso é o que chamamos, na nossa vida pessoal, a personalidade, o "feitio", de cada um e as compatibilidades que gera ou não. Tudo o resto é passível de ser mudado, melhorado, inventado.
A comunicação interna é por isso uma das áreas mais fascinantes de trabalho para quem gosta de pessoas. Não é cosmética, nem canal oficial de chefes para índios. Na essência devia ser uma das áreas de trabalho no coração de qualquer projecto. E os resultados, quando assim acontece, falam por si.
O vídeo produzido pela Coca-Cola, um dos maiores advertisers mundiais, é um bom testemunho da seriedade e empenho com que se pode e deve encarar esta possibilidade de vivermos e trabalharmos melhor.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A livraria da imaginação - O Pai Natal existe

Para muitos de nós, Natal é também sinónimo de livros.
Comprar livros, oferecer livros é uma das rotinas que mais prazer dá, seja qual for a época. No Natal, permite-nos lembrar e traduzir em palavras, ideias, imagens, que o que importa é o que sentimos, o que pensamos e o que fazemos com essa matéria-prima.
Oferecer um livro estabelece um triângulo virtuoso entre quem dá, a ideia que a obra comunica e quem recebe. Os livros não mudam a vida, como dizia uma editora, mas mudam as pessoas e as pessoas mudam, quantas vezes, a vida por causa do que leram, do que aprenderam, do que sonharam.
É por isso que o projecto que Jay Walker levou ao TED nos faz acreditar no Pai Natal. Para quem gosta de livros, a livraria desenhada por este bibliófilo e coleccionador de livros está ao mesmo nível de levar uma criança de 8 anos à Disneylândia.
"Walker shuns the sort of bibliomania that covets first editions for their own sake ... What gets him excited are things that changed the way people think.", escreve a Wired. E nós gostamos de pessoas assim.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O futuro do mercado por Madoff ou a evidência que o improvável não é sinónimo de impossível

O debate retratado neste vídeo tem pouco mais de 1 ano. Aconteceu a 20 de Outubro de 2007, antes da Lehman falir, antes da AIG ser intervencionada, antes da Merril Lynch ser igualmente salva das garras do mercado. Num tempo em que activos tóxicos eram apenas produtos financeiros estruturados e em que os bancos eram sinónimo de confiança. Parece que foi há muito tempo. Na realidade, a verdade mais crua não tem sequer 6 meses, apesar de desde o início do ano as cartas estarem de forma explícita em cima da mesa. Os especialistas de mercado dizem que o primeiro mês de cada ano é precioso na indicação de como o ano vai correr. Uma espécie de sabedoria da colheira agrícola aplicada ao mais sofisticado dos mercados. E em Janeiro de 2008, o mercado caiu 15%. seria pouco, face ao que vinha pela frente. E o que mais espanta e choca os especialistas é como uma fraude com a dimensão daquela que rodeia Barnard Madoff pode acontecer ... com quem aconteceu.Recapitulando. 1. Madoff não é um jovem turco ansioso por dinheiro rápido; pelo contrário, os cabelos brancos atestam a experiência e a serenidade de um homem que desde os anos 60 trabalha com elevada reputação nos mercados. 2. Madoff esteve à frente do Nasdaq. Sim, uma das principais praças do mundo teve a sua liderança, e isso constituiu mais um seguro e garantia. 3. A gestão do fundo era conservadora e enquadrada num regime de gestão conservador, com o fundo a ser passível de controlo mediante uma manage account que, na prática, permite seguir a pista do dinheiro. Tinha rentabilidades regulares, sem ser esfusiantes e, como se veio a perceber, totalmente manipuladas.
Hoje um dos especialistas portugueses em gestão de activos confessava-me que os danos de mais uma fraude já eram negativos, mas que este tipo de fraude, protagonizada por alguém que estava à margem do perfil dos "suspeitos do costume", tornava tudo ainda pior. particularmente para os hedge funds, mas para o mercado como um todo.
Há um ano Madoff falava sobre o futuro, esse tempo improvável mas garantidamente não impossível em que voltaremos a ter confiança uns nos outros.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Steve Chu, um Nobel na Casa Branca - luz ao fundo do túnel?




Barack Obama anunciou ontem a sua escolha para uma das pastas mais sensíveis. Steve Chu, cientista laureado com o Nobel da Física, director do Lawerence Berkeley National Laboratory, professor de Física Molecular e Biologia Celular na Univsreidade da California, é o escolhido.Chu tem um vasto curriculo académico, esteve em Stanford antes de Berkeley, e é uma das vozes respeitadas e ouvidas em matéria de energias renováveis.
O modelo energético, a dependência do petróleo e as alterações climáticas entraram de forma incontornável na agenda de todos e a América de Obama será forçosamente diferente da América de Bush também nestas matérias. Não apenas porque os presidentes são diferentes, mas porque o mundo está diferente. O problema é, todavia, bem mais complexo do que no tempo em que os Estados Unidos eram inequivocamente o eixo da economia mundial. Hoje, na Índia e na China, existem mais de 2 mil milhões de consumidores cujo padrão de vida é alimentado por um elevado consumo energético. No caso da China, mais em particular, o recurso a fontes poluentes, mesmo aquelas que o Ocidente já deixou para trás ou que usa de forma controlada, como o carvão é uma realidade. E é uma realidade entendida por muitos como natural. Parte do progresso, defendem. Outros vão mais longe e falam mesmo do "direito" da China a poluir, o "direito" de também errar. Afinal, durante décadas a fio, a China rural também respirou no mesmo mundo que o Ocidente poluia como parte do seu "direito" ao desenvolvimento. Argumentos, no mínimo, estranhos atendendo a que ignorância não pode ser confundida com inocência. E, nos dias de hoje, já só é ignorante sobre as consequências das opções poluentes quem quiser. Nunca tantos cientistas, investigadores, técnicos se focaram, como actualmente, na procura e no estudo de melhores energias. E nunca foi tão necessário tomar opções nesta matéria. Na conferência do World Affairs Council of Northern California, em 2007, que este vídeo retrata, Chu apresentava, entre outros, um número que dá que pensar: em pleno século XXI, ainda existem 1,6 a 1,7 mil milhões de pessoas que vivem sem electricidade. Com as óbvias consequências de (não) desenvolvimento. Mas também colocando outras questões: o que fazer para e o que fazer depois de mais 1,6 a 1,7 mil milhões de pessoas estarem no padrão de consumo energético ocidental?
Por todas estas razões, Steve Chu é uma esperança para muitos ao ser nomeado para a condução da política energética da ainda maior potência mundial. O desempenho das mentes brilhantes - cientistas, investigadores, professores - na política é matéria para outra análise. Tem sido difícil, desde o princípio dos tempos, encontrar o ponto certo de intersecção entre a ciência, o saber e a política.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A universidade dos pés descalços

É apenas um homem de média estatura em palco, sem grandes recursos audiovisuais nem cenários de suporte, à nossa frente no auditório da AESE, em Lisboa. Traz uma estória para contar. Como todas, começa … era uma vez.
Era uma vez um jovem de boas famílias que, na Índia dos anos 60, tinha frequentado as escolas mais conceituadas. “As melhores, mais caras e mais elitistas”. As mesmas por onde passaram ministros, primeiros-ministros (Indira Ghandi) e outros altos responsáveis indianos. Tudo concorria para que fosse, ele próprio, este homem que nos traz uma estória para contar, mais um desses altos responsáveis politicos ou económicos.
Corria o ano de 1965 e visitou pela primeira vez uma aldeia, na Índia rural. E, conforme relata, viu, pela primeira vez, fome, exploração humana, discriminação, miséria. Uma realidade que não se aprende em nenhum livro, menos ainda a solução para a mesma. No regresso ao conforto da casa de família informou a mãe que queria viver e trabalhar numa aldeia como a que conhecera. A mãe estremeceu e a família logo a tranquilizou: “deixa-o ir, são coisas de jovens, depois volta”.
A mãe esperou, esperou e o filho não voltou.
Quase 40 anos depois, Sanjit Bunker Roy, galardoado com o Tyler Prize (2004, EUA), ALCAN Award for Sustainability (2006 e considerado pelo jornal britânico “The Guardian” como um dos 50 ambientalistas capazes de salvar o planeta, tem não uma, mas muitas estórias para contar. Na aldeia para onde foi viver teve a ideia de criar “uma escola de pobres, para pobres e geridade pelos pobres”. Uma escola que privilegia os profisssionais entendidos como pessoas que têm “competências, confiança e convicção” e que são “aceites e respeitados pela comunidade”. Nasce assim o Barefoot College – à letra a Universidade dos Pés Descalços. Um local onde o grau de mestre ou doutorado não é reconhecido, nem vale de nada – “o que queremos é a pessoa, a humanidade, a compaixão”.
Sedeado na aldeia de Tilonia, no estado do Rajasthan – a Índia mais profunda e rural – o Barefoot College é hoje mais do que uma escola, uma abordagem global aos problemas do desenvolvimento. Tendo como premissa a preservação da sabedoria ancestral e a valorização do trabalho de cada membro da comunidade, o Barefoot desenvolveu iniciativas tão diversas quanto a recuperação de técnicas de captura e conservação da água das chuvas utilizando construções desenvolvidas pelos “arquitectos pés descalços” ou a abertura de uma escola nocturna onde as crianças, que durante o dia estão ocupadas a ajudar a família, pudessem aprender.

A luz da Índia
A formação de engenheiros solares e, muito em particular, engenheiras solares em comunidades sem recursos de leitura e de escrita é um projecto que já atravessou fronteiras. De Tilonia para 16 estados indianos e 9 países pobres – Afeganistão, Butão, Gâmbia, Serra Leoa, Mali, Mauritânia, Etiópia, Camarões e Bolívia. No total, mais 340 homens e mulheres receberam formação sobre como montar painéis solares para, com esse conhecimento, poderem electrificar as suas aldeias. Actualmente estão instalados cerca de 11 mil painéis solares e mais de 5 mil lanternas movidas a energia solar fazem chegar a electricidade a 125 mil pessoas em 3 continentes.
Bunker Roy considera este um projecto exemplar do ponto de vista dos Objectivos do Milénio: “cumpre as metas de pelo menos 7 dos 8 objectivos”. Uma das conquistas mais extraordinárias passa pelo envolvimento das mulheres nesta escola de engenheiros. Avós, mães e filhas saem das suas aldeias e vão durante 6 meses até Tilonia aprender a ser engenheiras. Há maridos que protestam, olhares desconfiados, insegurança das próprias. Mas quando voltam … “são tigres!”, exclama, sorrindo, o mentor do Barefoot College. No Afeganistão, país de tradições sociais e religiosas de grande rigidez, foram electrificadas 21 aldeias, num total de 900 casas. Dos 27 engenheiros solares, 7 são mulheres. Mulheres que hoje, rompendo com as barreiras convencionais, se sentam para discutir lado a lado com os homens e que respondem: “não estou aqui por ser mulher, estou aqui porque sou engenheira”.

Para quem queira passar por Tilonia, Bunker Roy deixa uma advertência: tem de ser capaz de estar 6 meses sem fazer absolutamente nada. Só ouvir, observar as pessoas, aprender com elas. E deixar para trás os três pilares da nossa vida moderna: ganhar dinheiro, ser bem sucedido e ser o primeiro.

“First they laugh at you, then they fight you, then you win”

Para saber mais:

Barefoot College

Bunker Roy


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

BMW e o poder da classe criativa


Campanha BMW

Criatividade. Foi durante largos anos uma palavra associada, de forma quase possessiva, ao universo das artes e da cultura. Confundia-se com excentricidade e era olhada com alguma benevolência pelas “pessoas sérias” como atributo de um determinado grupo num determinado contexto. Os tempos mudaram e criatividade é hoje um bem essencial a qualquer organização. A classe criativa viu as suas fronteiras expandirem-se. Aos artistas, escritores e músicos, juntaram-se pessoas da áreas tão distintas quanto a ciência, a tecnologia, a engenharia, a investigação e a gestão, unidas por traços comuns de consumo e de padrão de vida. São hoje um grupo estudado pelo seu contributo decisivo na “sociedade da criatividade”, mas também por razões bem mais prosaicas. É que a sua tradução nos balanços das empresas é bastante expressivo: nos Estados Unidos estão identificados como sendo uma população de 40 milhões de pessoas, que representa 30% da força laboral, 50% dos salários e 70% do consumo. Ou seja, um mercado fundamental para produtos e serviços com um poder de compra anual de 500 mil milhões de euros.
A classe criativa tem merecido a especial atenção de Richard Florida, autor do best-seller The Rise of the Creative Class, e que tem produzido algumas das mais interessantes abordagens sobre a forma como a criatividade está a revolucionar a economia. A cultura de gestão entendida como uma integração de temas económicos, tecnológicos, demográficos e comportamentais é o palco privilegiado do trabalho de Florida.
O seu trabalho é levado muito a sério por marcas que prestam especial atenção a esta classe criativa onde identificam os consumidores e, mais do que isso, seguidores. A informação de pesquisa sobre como vivem, trabalham e se divertem os criativos do século XXI foi utilizada pela BMW para conceber uma das mais inteligentes campanhas que hoje mostramos no Videonomics.
P.S. – Foi hoje apresentado, em Lisboa, o World Bank of Creativity, um projecto da iVity. À hora que escrevo, o evento de lançamento, em que com pena não pude estar presente, ainda decorre. Brevemente teremos decerto oportunidade de voltar a este tema.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Ubuntu - ou lições de sabedoria


Para quem ainda tenha dúvida sobre as possibilidades criativas, artísticas e até filosóficas do vídeo online - para além de todas as suas aplicações práticas - O Projecto da Sabedoria de Andrew Zuckerman é um excelente tira-dúvidas.

Realizador e fotógrafo, Zuckerman concebeu um projecto profundamente simples e intimista. O cenário, simplesmente branco, é mais forte que qualquer adereço. Evidencia personalidades tão fortes quanto Clint Eastwood, Robert Redford, Nelson Mandela, entre tantos outros cidadaõs do mundo com mais de 65 anos que partilham a sua visão de sabedoria. O documentário tem duração de 1 hora, é acompanhado de um livro Zuckerman inspirou-se numa ideia africana antiga, o ubuntu, que se poderia traduzir na bem portuguesa frase "está tudo ligado ou estamos todos ligados". O ser humano unido pelo que é comum, seja o amor, o trabalho, o conflito ou a solução. "Vivemos num mundo confuso e em permanente mudança e esta é uma excelente altura para ouvirmos o que as pessoas mais velhos podem dizer para nos ajudar", afirma o realizador.

O projecto nasceu de conversas entre o realizador e o seu editor cujas boas relações com o arcebispo Desmond Tutu contribuiram para persuadir os primeiros entrevistados a aderirem ao projecto. Aos restantes foram enviadas cartas de apresentação do projecto e, a persuasão final, foi conseguida com o envio de link para um website privado onde estavam disponíveis os primeiros clips gravados. O resultado final é um momento de reflexão e aprendizagem que vale a pena ver.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Despair.com - O humor que salva do desespero

Lucy Kellaway é colunista do Financial Times e escreve sobre temas que dizem respeito à vida de todos. A universalidade da gestão, uma das premissas que privilegiamos na abordagem do Videonomics, é trocada por miúdos nas suas crónicas e no seu blog. Lucy recebe estórias da vida de gestores, chefes de projecto, jovens estagiários, secretárias e pessoas de todo o tipo de organizações e sectores. As questões são de uma diversidade ilustrativa. Há quem se queixe do chefe, há quem se queixe da equipa, há quem lamente decisões dos accionistas, há dúvidas sobre protocolo de negócios, há indecisões sobre matéria de ética. E há quem escreva sobre chá e bolinhos. No mais recente post colocado no seu blog, Lucy Kellaway é confrontada com o desânimo de um gestor de 42 anos que, compelido a reduzir custos, decidiu cortar nos lanches gratuitos nas reuniões semanais. Como se diria em Portugal, caiu o Carmo e a Trindade. A equipa queixa-se que "assim não há moral" e a maioria dos leitores do blog não poupa a decisão do gestor. Não se trata da defesa incondicional do direito britânico ao chá com bolinhos. Nada disso. Na maior parte dos casos, é antes um elogio da gestão pragmática: "despeça logo uma das pessoas e fica com orçamento para chás e bolos durante 3 anos", escreve uma das pessoas. Mas também há quem veja do outro lado. "Oh my God. People really are losers. Complaining about the demise of office coffee? Some of us have real problems out here in the urban jungle", escreve um leitor de 39 anos. É banqueiro, o que, nos tempos que correm, ajuda a perceber o tom.
A terapia dos bolinhos, chocolates e rebuçados é largamente reconhecida nas organizações. Não só nas salas de reuniões, mas também no front office, seja o balcão do banco ou seja na caixa da loja quando vamos pagar a conta. É um sinal social, uma predisposição para o conforto ou até um consolo. Mas funciona e daí que a equipa do gestor em apuros fale da quebra na moral. Até que ponto os tempos estranhos que vivemos nos levam a estas fronteiras: cortar no chá de todos ou no emprego de alguns? Ficamos sem saber se essa é a opção, mas a discussão não é menos fértil por causa disso.
Voltaremos a ela, certamente. Para já, ficamos com o vídeo imperdível da Despair.com (cuja estória vale por si mesmo um espaço com destaque no Videonomics).
Tema? As queixas dos empregados, claro!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Vídeo online- para onde convergem empresas, audiências e conteúdos



A conferência The Future of Online Media Distribution, realizada na segunda semana de Novembro, juntou cerca de 400 executivos ansiosos por ouvirem boas notícias. Os oradores não desiludiram, mas deixaram alertas. O keynote speaker, Erik Huggers, director da BBC Future Media & Technology, deu o mote ao anunciar que quase 250 milhões de videos tinham sido vistos no serviço da estação (iPlayer). A descrição da audiência não podia ser mais transversal: pessoas de todas as idades que vêem videos a todas as horas do dia. Assinalando que a audiência do iPlayer é incremental face às visualizações tradicionais, Huggers disse também que a prioridade é colocar o serviço no maior número possível de plataformas e lançar uma rede social de forma a envolver a audiência de forma mais profunda com a programação.
A popularidade dos videos online é crescente, mas a Europa ainda não apanhou o passo dos EUA. Os produtores de conteúdos americanos mostram-se mais rápidos e versáteis a estabelecer acordos de patrocínio e ligação às IT, enquanto os europeus ainda persistem de forma exagerada em modelos tradicionais de publicidade online. E esta pode muito bem ser a fronteira entre um projecto interessante e de boa saúde financeira e um projecto porventura igualmente interessante mas a lutar para sobreviver, com toda a turbulência associada.
Claro que é um jogo em que o equilíbrio exige uma partilha de entendimento e oportunidades entre produtores de conteúdos e as empresas que actuam no mercado. A razão pela qual as empresas americanas adoptaram, mais cedo, modelos de participação diferenciados nos projectos de vídeo online é a mesma porque já têm estratégias de comunicação digital mais sofisticadas. Projectos como o da Dell - Dell Means Business - ou da Genworth Financial - Forward Thinking - em sectores tão distintos quanto a informática e os serviços financeiros são bem o espelho dessa comunhão de interesses entre empresas, audiência e conteúdos.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Semco - O local de trabalho mais radical do mundo




Gary Hamel voltou a Portugal em Outubro como orador convidado do SAP Business Forum, que teve lugar no Estoril, a 29 de Outubro. O Videonomics esteve lá e ouviu o guru da inovação em mais uma das suas enérgicas e energéticas profissões de fé. Hamel é um true believer, à parte de ser um reputado especialista em matéria de inovação e criatividade. E a convicção que tem nos temas que apresenta sente-se na sala, nos seus movimentos contínuos e numa espécie de entusiasmo transbordante que domina toda a intervenção.

Um dos exemplos de inovação que trouxe a Lisboa foi o da Semco, empresa brasileira de equipamentos industriais e soluções para gestão postal e de documentos.

Melhor que reproduzir, é ler Hamel na voz directa:
"Deixem-me partilhar um estudo de 80 mil colaboradores em 16 países, não creio que Portugal estivesse incluído, mas a Espanha esteve. 80 mil colaboradores por todo o mundo. Mediu-se quão comprometidos estes colaboradores estavam com o seu trabalho. A pergunta final que faziam era: acha que o seu trabalho faz a diferença? Entende como o trabalho está a suportar a missão da empresa? Recomendaria esta empresa como um local para trabalhar a um colega ou familiar? Eis o que descobriram quando fizeram o estudo. Na maior parte dos países não mais de 20% das pessoas estão comprometidas. Em muitos países, como em Espanha, os que não estão realmente descomprometidos é um número ainda maior do que estavam altamente comprometidos. A maior parte chega, recebe o ordenado no fim do mês e estão simplesmente lá.

Se é um gestor, estes dados são escandalosos. Isto é um escândalo! Pensem na quantidade de energia humana que está a ser desperdiçada nas nossas organizações, porque as pessoas estão a receber um retorno muito baixo da sua equidade emocional. Se for médico não pode viver com estes dados. Para um físico, a situação é a mesma. Por cada cinco pessoas que vêm ver-me acabo por matar quatro! Se é um professor, se no fim do ano 80% dos alunos são tão estúpidos como eram no início do ano. Como gestores, olhamos para estes números e dizemos: “Ok, é da forma que é”. Não! Não tem que ser assim!

(...)
Uma das empresas mais inovadoras que eu conheço é uma empresa brasileira Semco. Alguns de vós devem conhecer a empresa. O CEO, Ricardo Semler, é um gestor de força. Escreveu um livro fantástico chamado “Fim de semana de 7 dias”, que recomendo muito. Tenho a certeza que o encontrarão em Portugal. Na Semco, uma das coisas que fizeram foi retirar todo o controlo nas despesas das viagens em trabalho. Não necessita de ter permissão de ninguém para fazer uma viagem em negócios. Ninguém diz em que hotel devem ficar, em que companhias aéreas voar, em que classe, quanto se pode gastar num jantar. Não há qualquer tipo de política. E quando regressa também não há nenhuma função de auditoria. Pegam em todas as suas despesas, tem que se trazer os recibos para descontos de impostos, juntam-nos, fazem a aritmética e pagam o cheque.

Muitos de vós devem _ser financeiros. Podem chegar às vossas organizações e dizer ao director financeiro: “O Gary teve esta ideia fantástica, vamos acabar com todas as despesas com viagens”. E tenha o CPR (máquina de ressuscitação cardio-pulmonar) preparada, porque pode ter um ataque cardíaco. Então como é que funciona? É muito simples.

Na Semco estão organizados em equipas pequenas. Cada equipa é um centro de lucro. Metade das compensações depende do lucro do centro. E quando regressa da viagem, pegam nas suas despesas e publicam online para que todos os colegas vejam. Quão complicado é? Portanto, se veio embora com uma grande encomenda de 5 milhões e tem uma conta de 100 dólares de champanhe para pagar, os seus colegas vão dizer-lhe: “Porque bebeste do champanhe mais barato? Para a próxima pede Cristal. Bebe alguma coisa boa para variar”. Mas o negócio está complicado, e regressou com uma conta de 20 euros da garrafa de vinho vão dizer-lhe: “Da próxima vez fica-te pela água! Não temos dinheiro para isto!”. Transparência entre os colegas substitui todo o esforço, todos os problemas, todas as horas. Para além disso, esta vai ser a solução a longo prazo para a crise financeira.
Não se pode ter mais centralização e mais controlo com o mundo a mudar como está a mudar. Vocês precisam do controlo, da disciplina, mas como os mudam para a linha da frente? "

Gary Hamel respondeu a estas e outras questões e a versão completa da conferência vai estar brevemente disponível no Videonomics. Até lá, fica este vídeo sobre a Semco, uma empresa onde os colaboradores escolhem quantas horas querem trabalhar, onde ninguém fica no mesmo lugar mais que 2 dias (para não existir controlo visual de presença) e onde até o mobiliário de cada departamento é escolhido e comprado pela equipa com o orçamento que lhe é atribuído. A ideia é, como diz Hamel, simples: dar poder às pessoas para fazerem o seu caminho, tomarem as suas decisões e serem recompensadas em função do esforço e da paixão que investem. Socializar o capitalismo - O futuro do trabalho?

Rematando com as palavras de Gary Hamel: O desafio hoje não é como levar as pessoas a servir os objectivos da organização. O desafio é como construir uma série de aspirações numa organização que premeia estes dons, que premeia os dons de iniciativa e criatividade.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

The Verge - "Ajudem-nos a 'vender' Deus"

Não é fácil supreender as audiências profissionais de conferências. Depois das 20 primeiras, todas tendem a ser mais iguais do que diferentes e, por isso mesmo, cada vez é mais fundamental o factor surpresa e a aposta em fazer diferente.
A 5 de Junho, a Ogilvy em colaboração com a AESE trouxe a Portugal o “The Verge”, uma iniciativa que a multinacional de comunicação tem em marcha há alguns anos e que visa debater o que de mais entusiasmante se faz na criatividade digital.
A Ogilvy trouxe algumas estórias memoráveis. Como, por exemplo, a da congregação americana que passou à agência um briefing absolutamente sui generis: ajudem-nos a vender Deus. De acordo com o cliente, as estatísticas mostravam que havia mais crentes, mas essa evolução não se traduzia em presenças na igreja.

O trabalho realizado é revelador da produnda maleabilidade do meio digital, mas também de uma abertura de espírito notável.
A campanha arrancou a uma sexta-feira com um email: “Thank me. It’s Friday”. Assinado: God. No domingo seguinte, era a vez da TV: “Even I rested on the seventh day. Enjoy”. Durante a semana, a campanha chegava às ruas. Nos autocarros, lia-se: “Drive carefully, You are not ready to meet me yet”. Para fechar, com chave de ouro, em sms: “When you talk to me they call it a prayer, when I talk to you they call it scquizofrenia”.

Mais que os resultados, o estímulo da conferência foi servido na forma das possibilidades fantásticas do meio digital.
A IBM trouxe ao mesmo palco um estudo sobre os consumidores de internet, com enfâse nos “kool kids”, sub-24, que têm mais tempo que dinheiro. Um grupo que tem 3 vezes mais possibilidades de estar nas redes sociais, disponível para ver publicidadade sob certas condições. Que condições? Trocando conteúdos por conteúdos e consumindo publicidade que se mistura naturalmente (atenção não se trata de manipulação ou de publicidade encapotada) com entretenimento.

Fica aqui a apresentação da Patou Nuytemans, em Londres, à falta de imagens em Lisboa. Espero que em 2009 a iniciativa se repita e o Videonomics lá estará.

Para todos os que se interessam pelo tema, vejam também:

The Verge - O que é e o que pretende alcançar

US Kids Online

The end of television as we know it



sábado, 22 de novembro de 2008

Steve Jobs em Stanford - Paixão pelo que fazemos

Foi espantosamente fácil escolher o primeiro vídeo que representa o espírito "Videonomics". A conversa de Steve Jobs com os finalistas de Stanford dificilmente poderia ser mais inspiradora, tocando todos os temas que realmente interessam.

Videonomics - Cultura de Gestão

“A sua caixa atingiu a capacidade maxima, por favor elimine algumas mensagens”. E nós paramos, ouvimos as mensagens que a vida de todos os dias deixou guardadas no gravador, decidimos se é importante manter esse ficheiro ou se podemos apagar até completarmos todo o processo.
Pode ocupar-nos 10 minutos ou meia hora e pode parecer que não faz diferença.
Na realidade, o preço do armazenamento de dados cai 50% a cada 18 meses que passam e o preço do processamento a cada 2 anos. 1 terabyte de storage custa, a preços correntes, 120 dólares e um computador Dell standard tem essa capacidade.
Metade de um terabite corrresponde também à capacidade de storagem instalada em toda a revista Wired, o título-ícone da Economia Digital e cujo editor, Chris Andersen, encontrou nesta estória uma evidência palpável da teoria que apresenta no seu novo livro, “Free”. É que a capacidade de armazenamento é hoje abundante, e por isso barata, mas o tempo das pessoas é cada vez mais escasso.


O projecto Videonomics tem tudo a ver com tempo e com a necessidade de termos acesso às ideias, aos projectos, às pessoas e ao que estão a fazer em tempo útil. Todos os dias são publicados 65 mil novos videos no YouTube. Todos os dias, e são os mesmos dias, são publicados 3 mil novos livros. Uma semana de informação num jornal de referência como o New York Times agrega tantos dados quanto seria possível reunirmos numa vida inteira … no século XVIII!
Estamos viciados em informação e tantas vezes esmagados pela dificuldade de a consumir em tempo útil ou de a consumir sequer. Sabemos que parte de todos os conteúdos que diariamente são produzidos é lixo, mas enfrentamos o clássico dilema do David Olgilvy .. não sabemos qual das partes é lixo ou somos obrigados a gastar o pouco tempo de que dispomos para o descobrir. E tudo isto acontece numa era em que a troca de ideias e de experiências é mais importante do que nunca.

O Videonomics propõe-se ser um facilitador, um descodificador e também um produtor de conteúdos. Um projecto que nos ajude, todos os dias, a encontrar ideias, projectos e pessoas que estão a acrescentar valor à nossa realidade, a abrir caminhos de futuro e a criar novos espaços de felicidade e realização.
É um projecto de gestão, numa visão da disciplina como agregadora de um conjunto de conhecimentos e práticas que nos permitem alcançar melhores resultados e viver melhor. E nesse sentido, gestão é também cultura, iniovação, tecnologia, investigação. psicologia, filosofia, biologia e matemática. Entre outros. Hoje como nunca sentimos, mais do que sabemos, que tudo está inequivocamente ligado.

E porque o espírito é de partilha, este é também um projecto que desde a hora zero vai ser comunicado passo a passo. A vida é uma audaciosa aventura ou nada e colocar no ar a primeira webTV de Gestão tem, sem dúvida, muito que contar.

Uma nota aos cépticos e um agradecimento ao professor António Câmara: este blogue foi criado há um mês com os objectivos que estão traçados neste post. Durante um mês, a voz dos cépticos que já ouvi em projectos de terceiros, fez-me hesitar. Portugal é estranhamente um país onde uma enorme generosidade convive lado a lado com o culto do falhanço. Esta semana, tive o privilégio de assistir a uma conferência do professor António Câmara no Instituto Superior de Gestão. Num relato de uma autenticidade comovente e com a simplicidade que só a sabedoria traz, o fundador da Ydreams passou em revista a história do seu projecto, os acidentes de percurso, os erros, as vezes em que as coisas simplesmente não deram certo. E que são absolutamente imprescindíveis para aquilo que nos habitamos a designar por sucesso e que, felizmente, ele também sabe o que é. Só não falha quem não tenta e nesse barco tenho a certeza que não quero estar.