quinta-feira, 17 de setembro de 2009

TED -25 anos antes de tempo


Amanhã realiza-se em Lisboa a TEDxEdges, um formato construído a partir das TED Talks originais (www.ted.com) e que resulta da adesão mundial a esta rede de conhecimento e criatividade.Pode parecer absolutamente óbvio que pensadores das mais diferentes esferas de conhecimento e actividade partilhem o que sabem e o que fazem com o mundo. Não é. É reconhecidamente necessário, cada vez mais necessário, mas não é óbvio. Menos o era em 1984 quando o fundador das TED Talks, Richard Saul Wurman, avançou com esta ideia doida de juntar gente da Tecnologia, Entertainment e Design e partilhar as suas visões e trabalhos. Não se tratava de uma gente qualquer - um dos requisitos é que não fossem "os do costume", os que estão lá porque fica bem ou meramente para fazer, como hoje se diz, apenas networking pessoal. A ideia era que fosse uma network sim mas de conhecimento e inspiração. E foi isso que foi, 10 anos antes da internet, 20 anos do YouTube, mas já com a visão que era importante registar em filme para que nada se perdesse. É essa enorme generosidade e verdadeira criatividade que chega amanhã a Lisboa, com o selo de um trabalho de 25 anos.
Aqui fica a primeira TED Talk. Nicholas Negroponte, fundador do MIT Media Lab, também ele um visionário que em 1984 já arriscava prospecção criativa em territórios hoje mass market.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Menos é mais? ou porque ainda bem que não podermos ter tudo

Há uns tempos uma amiga contava-me com alguma irritação que tentara pedir uma água num café e que o empregado insistia em lhe apresentar um vasto menu de opções. Com ou sem gás, natural ou fresca são opções do passado; hoje qualquer marca que se preze tem pelo menos uma dezena de sabores, mais outra dezena de aditivos especiais que fazem bem a algum aspecto da saúde, entre outras particularidades. A minha amiga terminou a conversa com o empenhado empregado do café dizendo: "posso ter uma água só a saber a água?"

Os estudos mostram que nunca como hoje tivemos tanta escolha. Não apenas de produtos, mas de tudo na vida. Como queremos viver, que aspecto físico queremos ter, como ocupamos o tempo, que "estilo" de pessoa somos, se temos filhos, se nos casamos, enfim, you name it ... Na verdade, nada disso nos está a fazer mais feliz. E é compreensível.

Vejamos. 285 marcas de bolachas. 230 marcas de sopas. 75 de ice teas. 275 de cereais. 40 de pastas de dentes. 50 de DVDs players. São estes os números que nos torturam. Como se escolhe quando há tanto por onde escolher? O que fazemos nesta era da abundância onde podemos ter tudo e em todas as cores?

A questão é exactamente essa. We can't have it all! É isso que o psicólogo Barry Schwartz nos explica nesta conversa. Actualmente o nosso problema - pelo menos os "nós" do mundo ocidental - não são os recursos à nossa disposição para nos podermos realizar. Dos básicos como a alimentação, a casa e a roupa aos mais sofisticados, como entretenimento e desenvolvimento intelectual, o menu, como nas águas, é vastíssimo e a liberdade para escolher é um valor garantido.

O que nos atormenta é como escolher entre tantos recursos, ao ponto de, quando escolhemos um, imediatamente iniciarmos a nossa infelicidade em vez da satisfação pelo seu usufruto. Porque escolher entre um ou entre 1000 implica sempre deixar algo de fora, mas quanto maior a escolha maior a nossa certeza que "devemos estar a perder alguma coisa".

Na realidade não é bem assim. Estudos realizados, por exemplo, com a degustação e promoção de compotas nos hipermercados mostram resultados curiosos. Quando a oferta é de 24 sabores de compotas - conseguem imaginar 24 sabores!!! - as pessoas experimentam mais do que quando apenas existem 6 sabores. Mas, curiosamente, isso não se traduz em vendas, uma vez que só 1/10 efectivamente compra. Outros estudos, de carácter neuro-biológico, revelam em paralelo que 6 ou 7 combinações são o máximo que o nosso cérebro consegue memorizar - daí serem o número kármico em tantas funcionalidades do dia-a-dia.

No livro "Blink" sobre os nossos processos de decisão quando pensamos sem pensar, Malcolm Gladwell refere a certo ponto que "aceitamos como um dado adquirido que quanto mais informação o decisor tiver, melhor decide". Todavia, vários estudos demonstram exactamente o oposto: toda a informação a mais não é realmente uma vantagem; na realidade é preciso saber muito pouco de um fenómeno complexo para descobrir o padrão subjacente.

Voltando às escolhas e ao tormento que nos causam. O inimigo somos nós quando acreditamos que podemos ter tudo. Não podemos e isso são boas notícias. É na auto-limitação e não nas opções ilimitadas que encontramos o que nos faz felizes. Schwartz apresenta o melhor indicador: o que mais feliz nos faz são as relações realmente próximas que estabelecemos com os outros. Por definição, não conseguimos ser próximos de toda a gente, o que em sim já é uma opção. Mas, mais do que isso, quando nos auto-limitamos por causa de outra pessoa de quem gostamos somos felizes nessa auto-limitação em vez de infelizes por termos feito uma escolha e excluído nesse momento múltiplas combinações de felicidade potencial que na realidade somos incapazes de vivem em simultâneo.