quinta-feira, 26 de novembro de 2009

“Faço escolhas estúpidas por razões de conveniência ou preguiça tão básicas quanto o facto de ter o meu telemóvel mais perto de mim do que o PC”.



Não pagamos donativos, mas enviamos SMS

Perceber estes novos consumidores e reorganizar oferta de conteúdos e modelo de negócios é, todavia, tudo menos simples. Rory Sutherland, vice-chairman do Ogilvy Group, no Reino Unido, apresentou uma boa ilustração dessa evidência. “Veja-se o que se passa com as campanhas de responsabilidade social e o público jovem. Nenhum jovem faz donativos na rua ou nos eventos. Primeiro porque têm pouco dinheiro e precisam dele para a cerveja e afins, e depois porque os jovens consideram que essa é uma missão dos pais ou do Estado. No entanto, se a campanha lhes chegar ao telemóvel e bastar enviar um SMS contribuem em grande escala e nem pensam no dinheiro”. Conclusão: a escolha do canal, para efeitos de modelo de negócio, é tão decisiva quanto a escolha do conteúdo. Outro exemplo está na compra de mais velocidade/largura de banda: “o consumidor dispõe-se a pagar um upgrade de velocidade, mas acha inconcebível se lhe aumentarem o preco do conteúdo … que é na realidade o motivo porque quer mais velocidade”. Ou seja, há conteúdos que os consumidores acham impensável pagar num canal e que pagam sem problemas noutro e há conteúdos que é preciso empacotar com a plataforma certa para que seja retribuído o seu valor. “Faço escolhas estúpidas por razões de conveniência ou preguiça tão básicas quanto o facto de ter o meu telemóvel mais perto de mim do que o PC”.

"Who pays? Winners and Losers in the new economy".

Decorre hoje, 26 de Novembro, a I-COM National Roundtable que tem por objectivo lançar o debate sobre o futuro da medição dos Media On-line. Um tema mais pertinente do que nunca numa época em que se multiplicam conteúdos e questões sobre os modelos de negócio que os suportam.
Partilho aqui uma das conferências a que assisti no IBC, em Amsterdão, em Setembro deste ano (é o último audio na página cujo link anexo). O tema era "Who pays? Winners and Losers inthe new economy". Falou-se muito de televisão - 2 mil milhões de ecrãs no mundo inteiro e taxas de crescimento de 6% mesmo em ano de recessão produzem esse efeito. Mas nenhum dos conferencistas passou ao lado do tema que alimenta as maiores discussões: a convergência do broadcast e do broadband. Eram eles, os conferencistas: William Cooper, da Informitiv, Ed Shedd, Deloitte UK, Tom Marrods, Screen Digest e Gerry O'Sullivan, da SKy TV e responsável pelo canal 3D da operadora a quem coube as proféticas palavras: "os vencedores serão quem investir em conteúdos e em inovação e só o poderão fazer com um modelo de negócio sustentável".

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Do universo do “não pode ser” até ao mundo de possibilidades



A piada tem inúmeras versões e sempre uma lição que pode ser lida com ou sem cinismo. A história é sobre dois vendedores que no início do século passado vão vender sapatos para África. Um deles manda um telegrama em que diz: nada a fazer, eles não usam sapatos. O outro envia uma missiva em que afirma: grande oportunidade, eles não têm nenhuns sapatos! Benjamin Zander leva-nos numa viagem sobre o potencial humano e a escolha do universo em que queremos viver.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Empreendedores Sociais - "Oh Lord, won't you buy me a Mercedes Benz"

Nos anos 80 eu era uma garotinha. Foi o tempo da explosão yuppie que, com o nosso crónico atraso, chegou a Portugal mais no fim da década, devidamente embrulhada em fundos europeus e uma ilusão de modernidade paga com cartão de crédito. E de repente todos achámos natural comprar carros, comprar casas. No corporate world - coisa que até então nem sabíamos bem do que se tratava (ditaduras, PRECs e crises económicas mantiveram-nos ocupados com outras coisas por alguns anos ...) - os jovens ferozes começaram a o olhar para fora e para cima e a pensar no carrão que a subida hirárquica lhes compraria. Talvez não fosse o Mercedes da Janis Joplin, pelo menos para todos, mas conta a intenção.
Hoje estive a moderar um painel sobre empreendedorismo social na conferência da EWMD - European Women's Management Development International Network, liderada em Portugal pela Teresa Lacerda, e que teve lugar no ISEG. "LEADERSHIP IN THE 21ST CENTURY".Entre entrevistas e sessões de discussão, ocorreu-me uma estória que Belmiro de Azevedo usa como só ele sabe para retratar algum Portugal, infelizmente para todos nós ainda um Portugal com alguma dimensão (estória essa também recordada por Filipe Fernandes, no editorial da Revista Exame deste mês). A estória diz assim: o que perguntam dois ex-colegas de curso quando se encontram? A primeira pergunta é 'onde estás?' e só depois, e eventualmente, 'o que fazes?'.
O "cargo", a "empresa", o "status" têm raízes profundas numa cultura servir por demasiado tempo e daí resulta que em várias circunstâncias, a mesma pessoa pateta ou pouco interessante ou pouco qualificada possa passar a ser uma pessoa com potencial, muito interessante e competente - tudo dependendo de "onde está". Façam esse exercício - escrevam numa folha o nome de pessoas que conhecem profissionalmente em lugares "importantes", noutra coluna escrevam honestamente o que pensam e sentem em relação a essa pessoa, e numa terceira coluna aquilo que comummente dizem ou ouvem dizer dela. Também vale fazer o exercício inverso - pensem em pessoas que (re)conhecem pelo que "fazem" e avaliem o que valem por isso mesmo e, já agora, como são (ou não) (re)conhecidas no mercado.
O que me leva ao tema do painel que moderei, sobre empreendedores sociais. A expressão pode soar a moda, mas a realidade é que há um movimento efectivo e determinado de pessoas "com potencial, interessantes e competentes" que optam por trabalhar no dito 3º Sector e viver profissionalmente as causas e as frustrações de quem lida com os problemas sociais. Contei com a participação no meu painel do Rui Martins, da Dianova, e da Sandra Almeida, da Fundação Aga Khan e esteve longe de ser um debate convencional ou monótono. O Rui levou até à audiência a estória de uma organização que consegue ajudar pessoas com problemas de drogas e não depender de caridade, aplicando os princípios da gestão e desafiando a criatividade diariamente. A Sandra trouxe-nos a frescura e a paixão de quem está a "fazer" algo porque simplesmente acredita. Como eles os dois, milhares de pessoas no mundo inteiro "estão a fazer" independentemente de "onde estão". E isso implica trabalhar com comunidades carenciadas, muitas delas invisíveis, um país de pessoas anónimas que só por mera graça da sorte ou do telejornal recebem honras e atenção. Em todos os outros dias, os Ruis e as Sandras estão lá, à procura de soluções, a procurar perceber como usar a criatividade própria de quem não tem nada e transformá-la em alguma coisa de positivo, a planear actividades e projectos com orçamentos em regras curtos e aquém do necessário, a explorar oportunidades e a aplicar ideias novas. E ainda, no fim de muitos dias, a usar uma dose extra de tempo, energia e motivação para superar as frustrações, os desencantos, o fim de linha e regressar no dia seguinte.
Se isto não é uma boa inspiração para qualquer empreendedor, qualquer gestor, qualquer líder, onde quer que esteja, definitivamente algo está muito errado.
Sobretudo, porque este movimento de empreendedorismo social é verdadeiramente transversal - está a acontecer um pouco por todo o mundo, é inter-geracional e conquista um número crescente de "cabeças" ao dito corporate world. O que atrai esta gente toda? Ser parte da solução em vez do problema, usar a criatividade e a capacidade para mudar realmente alguma coisa e sobretudo esse sentimento inexplicavelmente único de fazer bem.
A diferença face a outros tempos? São melhor preparados, trazem outras competências profissionais e pessoais e estão interessados em aplicá-las ao universo social. O que nos pode permitir sonhar que melhores tempos virão. Ah, uma pequena mas importante nota: é que também podem, como bem lembrou o Rui Martins, ter o Mercedes à porta. Afinal, também isso está a mudar e já não é pecado conseguir viver e trabalhar na área social e não passar o tempo de mão estendida.