terça-feira, 7 de abril de 2009

Quantos dias de sol teve no último mês?

Faça você mesmo o teste. Pense no último mês e escreva num papel de quantos dias de sol se lembra. Depois compare a sua resposta com a tabela meteorológica desse mesmo mês. Se há mais sol na sua vida do que nos registos do clima, está provavelmente no grupo das pessoas que se consideram satisfeitas com a vida que têm. Como os dinamarqueses, por exemplo. Se, pelo contrário, o sol que chegou até si nos últimos 30 dias é inferior ao sol real do local onde vive, não está assim tão satisfeito e tem algumas probabilidades de ser português e lisboeta. Robert Manchin, director da Gallup Europe e autor do estudo “Soul of the city – Perceptions on Lisbon”, fechou assim com chave-de-ouro a sua apresentação na conferência sobre qualidade de vida no âmbito da iniciativa Os Melhores Municípios para Viver, dinamizada pelo INTEC.

O estudo da Gallup sobre o capital emocional das cidades revela uma Lisboa onde as pessoas não têm níveis de envolvimento com a cidade. Uma cidade, por isso mesmo, menos feliz do que podia e merecia ser. Se associarmos a estes dados, o facto de que o principal factor de atracção das pessoas às cidades é a sua projecção no futuro, fica ainda mais evidente a urgência de criar uma nova “alma” para Lisboa. O que o estudo de Manchin mostra é que, sobretudo no que respeita às classes criativas – cada vez mais um alvo preferencial das cidades – imaginar o futuro é o principal elemento de atracção. E é por isso que Berlim, uma cidade com problemas de emprego e com uma integração recente, está no mapa das cidades favoritas destas classes criativas: quem lá está ou quem se sente atraído pela cidade olha com optimismo para a sua evolução nos próximos anos e acredita que será um melhor local para viver. Barcelona é o exemplo de uma cidade com a qual as pessoas têm um nível de envolvimento emocional completo, Londres está na graduação de “bom envolvimento” e o Porto é avaliado como uma cidade em processo de “descolagem”. Lisboa não tem simplesmente envolvimento emocional – está desligada.

Regressando a Lisboa. Os lisboetas até gostam da cidade. 45% afirmam que a cidade está a ficar melhor e 82% querem continuar a viver na capital portuguesa. Porém, quando se colocam questões mais do foro experiencial, os resultados não são assim tão animadores. Por exemplo, pergunta-se aos inquiridos de várias cidades se tinham vivido algo muito divertido no dia anterior. Em Toronto, 88% responde que sim, em Londres 75%. Lisboa não passa dos 58%. Pior quando a pergunta é “Ontem aprendeu alguma coisa interessante?”. Londres também desce para 55%, mas Lisboa vai aos 48%.
Ganhamos no sorriso: 71% dos lisboetas sorriu – ou mesmo riu! – no dia de ontem.

“Talento, inovação e criatividade foram, desde sempre, os elementos constituintes da alma das grandes cidades”, afirmou Robert Manchin. A satisfação de cada um com a vida que tem é historicamente baixa em Portugal. Não é produto do momento, tem sido uma linha de continuidade na vida dos portugueses. Somos igualmente um pais em que os dados mostram uma correlação entre dinheiro e felicidade fazendo jus ao dito popular “dinheiro não traz felicidade mas ajuda muito”. Encontrar outras razões para ser feliz, que não aquelas que decorrem do dinheiro, é por isso um tema cada vez mais na ordem do dia. A qualidade de vida, cuja construção não passa exclusivamente pela monetização, é por isso uma das apostas estruturais de mudança e alguns dos melhores municípios para viver, como Angra do Heroísmo, Santo Tirso, Albufeira, Portimão, Funchal, Cartaxo e São João da Madeira trouxeram excelentes ideias de como tornar paradigmas em realidades de todos os dias.

6 comentários:

Anónimo disse...

Viva

eu acho muita piada a este tipo de estudos, são os chamados estudos de "chover no molhado ", ou seja, não servem para nada e de base cientifica completamente duvidosa, servindo essencialmente para propaganda e promoção de quem os faz.

ou não ?

hahah

Rita disse...

Não podia estar mais em desacordo com o comentário anterior.
Não sei se é por defeito de profissão, uma vez que trabalho em urbanismo, mas estes estudos são muito importantes.
É exactamente por falte de pensarmos as cidades que elas estão como estão, principalmente a minha adorada Lisboa.

Se tivessemos pensado e falado mais a cidade talvez tivessemos conseguido inverter o rumo que Lisboa tomou, e que era evidente há já muito tempo.
E isso só não aconteceu devido à arrogancia e insensatez de quem não quis ver ou ouvir obvio.

As cidades são organismos vivos, palpitam ao ritmo de quem lá vive. Pensarmos as cidades apenas como um intrincado de betão e de infraestruturas é matar as cidades. Temos de as pensar num todo, com um projecto, com uma estratégia, com um futuro e um caminho definido, sem isso a cidade morre, pára no tempo e fica, infelizmente, como Lisboa.

Sem gente, sem vida, sem diversão, sem alma...

Se não falarmos, não pensarmos a cidade, não falamos nem pensamos na nossa qualidade de vida e no nosso bem estar, uma vez que a cidade e quem lá vive têm uma relação intrinseca.

De qualquer forma, goste-se ou não deste tema, de-se ou não importância ao mesmo (que no meu entender é vital)é sempre melhor falarmos nos assuntos, mesmo que numa abordagem que não concordamos, do que nunca falarmos neles ou por e simplesmente desconhecer-mos que eles existem.

Achei muito interessante, e com muita pena minha, tenho de concordar. Portanto pensemos as cidades e num acto de cidadania contribuamos para melhora-la com um projecto de futuro.

Marlene Conraria disse...

Considero bastante interessante o conteúdo da mensagem e os resultados apresentados. De facto, Portugal é um país onde a felicidade pessoal anda de mãos dadas com o recheio da carteira e de outra forma não se concebe a posição de "feliz". Como se pode ser feliz sem dinheiro? "Não pode", responderia o bom português. Esta atitude perante a vida provoca o desligamento da vida em sociedade e, por consequência, na vida das cidades.

Quem se refere a este tipo de análise como estudo de "chover no molhado" é o português do "coça para dentro". Do género anti-evolução, do "sempre foi assim" e nem sequer consegue compreender a importância destes estudos... Infelizmente ainda os há.

Parabéns pelo blogue! Os temas são tratados de uma forma séria e relevante.

Anónimo disse...

O envelhecimento da população não cria "dores de cabeça" exclusivamente ao sistema nacional de saúde. Há, associado a esse, o envelhecimento urbanístico.

Nas cidades portuguesas como Lisboa, Porto ou Coimbra, existem guetos de velhos, na sua maioria velhas viúvas, que espreitam atrás da cortina amarelecida pelo tempo. Vivem sozinhas angustiadas pelo medo, medo da rua, medo das suas casas enormes, frias e sombrias.

E os outros, os jovens? Os ricos? Sim também! Mas há aqueles que querem continuar a viver e a dar vida à cidade. Aqueles que sobem até ao 5º ou 6º andar sem elevador, aqueles que deixam o carro a 2 quarteirões de casa, aqueles que se habituaram a ouvir o bicho da madeira durante a noite.
Esses são poucos, muito poucos...

Viver Lisboa é, por exemplo, percorrer a rua da escola politécnica desde o rato ao largo de Camões,numa tarde primaveril. Procurar o rio em cada abertura, imaginar aqueles que cuidam das varandas. Entrar no Hotel Chiado, subir ao terrace e contemplar a luz do sol a espelhar-se no Tejo. Pedir um iogurte grego de frutos silvestres e sorrir por pertencer a esta cidade encantada: Lisboa

burgau disse...

Sou indiferente ao valor científico deste estudo... tem o mérito de nos fazer pensar a relação com a nossa cidade e isso é por si só muito valioso! Sou do Porto e vivo a minha cidade intensamente, adoro perder-me nas ruas da Baixa e da Sé e descobrir-lhes facetas novas.As pessoas então, são simplesmente fantásticas, se as abordarmos!E um passeio destes, mesmo de 15 minutos ao almoço é suficiente para ter sol todos os dias na minha vida! Aliás, cada vez mais acho que o Sol depende de nós,temos que querer vê-lo!

Rute Sousa Vasco disse...

Olá a todos,

Tomo a liberdade de incluir o link para o estudo original para que os interessados possam avaliar a metodologia e também os resultados mais em detalhe.
De novo, obrigada ao Carlos Vieira do Grupo Ensinus que fez forward do endereço:
Mais detalhes, incluindo metodologia em http://www.gallup-europe.be/events/presentation/20080509_Ceci%20nest%20pas%20Bruxelles_Gallup%20Europe_v10.ppt

A todos, obrigada pelo interesse. O tipo de temas que nos propomos debater e aprofundar no Videonomics só faz sentido com a participação de todos.
Até breve,
Rute