sexta-feira, 17 de abril de 2009

Santos e Gestores

As organizações do 3º sector estão cheias de santos. Mas ser santo não chega para fazer o bem e é por isso que a profissionalização da responsabilidade social deve ser uma prioridade. E os santos devem procurar gestores que os ajudem a fazer o bem de forma eficiente. Com a clareza que a caracteriza, Isabel Jonet, do Banco Alimentar, disse-o assim, com as letras todas, no Fórum RH 2009 que hoje e amanhã decorre no centro Cultural de Belém. É difícil ficar indiferente quando se ouve esta senhora falar. Não se trata apenas de ter obra feita. É, antes de qualquer outra coisa, uma abordagem absolutamente convincente de não-deslumbramento com capacidade de sonhar. Que, como é bom de se ver, não são opostos, pelo contrário. “Tem de existir equilíbrio no que se faz. Não faz sentido ver acções de voluntariado com senhores muito bem vestidos, de fato e gravata, bom relógio, a saírem de excelentes BMW ... na Cova da Moura. Não é pelo carro ou pela marca ... é o desequilíbrio dessas situações”. Que, como acabaria por acrescentar, não são exclusivas da exibição material em contexto de pobreza. Também os jovens, com a energia que lhes é própria, muitas vezes estão em “des”-contexto. “Muitas vezes as pessoas querem mudar o mundo à sua maneira, sem olhar à cultura da organização ou do meio”. A mesma cultura que fez, por exemplo, com que recusasse uma campanha de publicidade proposta ao Banco Alimentar, tecnicamente muito boa, mas em contra-valor com a forma como a organização actua e se posiciona. “As nossas campanhas sempre se centraram nos voluntários. É assim que nos queremos apresentar. Não temos o direito de usar os pobres como tema de marketing”.
Num ano em que todos os orçamentos são curtos, Isabel Jonet não pestaneja quando diz que “a principal responsabilidade social das empresas é manter o emprego; porque se houver mais desempregados há mais pobreza”. Já o Estado, recomenda, deveria prestar outro tipo de atenção ao 3º sector: “este é um Estado cego que não premeia as boas práticas. Já é tempo de existir uma certificação das organizações do 3º sector, porque este não é mais um mercado onde o importante é ganhar dinheiro”.
Isabel teve uma audiência comovida e incomodada, como alguns dos presentes não se inibiram de confirmar. Estas coisas incomodam, de facto, sobretudo porque a crise que vivemos torna impossível que não nos lembremos, mesmo que apenas de vez em quando, que há que fazer mudanças. “O único elemento que pode mudar as sociedades é o ímpeto dos jovens ... não devemos ter medo dos novos; devemos aprender com eles e estar dispostos a ensinar o que já sabemos”.

Sem comentários: