quinta-feira, 16 de abril de 2009

Everywhere you go, you always take the weather with you

Lembram-se da música?
Parece demasiado ligeiro lembrarmo-nos de uma pop quando o tema são alterações climáticas, mas a frase deste refrão é certeira. Ninguém escapa. Logo, tem mesmo de ser uma prioridade porque não temos como nos esconder do clima e a dimensão do problema é, de facto, planetária e não meramente um problema isolado ou localizado.
Antes de falar da conferência BES – Futuro Sustentável que este ano trouxe a Portugal Rajendra Pachauri, prémio Nobel da Paz em parceria com Al Gore e presidente do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), sinto que o tema exige um disclosure. Não sou uma ambientalista nata. Porque gosto de me mobilizar, durante algum tempo senti-me defraudada comigo própria pelo pouco entusiasmo que o “discurso verde” me suscita. A reconciliação comigo mesma e a consequente capacidade de mobilização para um tema que, seja numa versão maximalista ou minimalista é seguramente incontornável, só aconteceu quando me recordei da minha relação com a ciência. Sempre fui boa aluna e sempre tive curiosidade por saber mais. Durante anos hesitei entre as ciências sociais e humanas. Em certa altura desabafei com um professor de biologia que já não aguentava mais ter de saber detalhes sobre a reprodução das plantas ou estômago dos coelhos. Não me conseguia mobilizar. O professor que era experiente e que já me ensinava há 2 anos não se mostrou minimamente melindrado com a confissão e tratou de me animar: “deixa lá, para o ano o animal que estudamos é o ser humano”. Percebi nessa altura, com cerca de 12 anos, que o meu foco de interesse estava nas pessoas e que só através delas me conseguiria interessar pelo meio ambiente. E na sustentabilidade, mesmo para aqueles que como eu são mais insensíveis aos documentários sobre a natureza, há um bottom line que nos toca a todos: isto tem a ver com o nosso futuro enquanto gente, enquanto espécie e essa é uma razão egoísticamente inadiável para que tudo o resto se torne prioritário.
“A humanidade não se encontra num cruzamento, onde tem de optar entre virar à esquerda ou à direita. A humanidade está, neste momento, à beira do precipício e a questão que se coloca é saber se consegue ou não inverter a marcha e evitar cair”. Rajendra Pachauri, o Nobel vegetariano que logo no início da conferência nos lembrou que são precisos 10 quilos de cereais para produzir 1 quilo de carne, colocou o problema das alterações climáticas com este nível de urgência. O mesmo que o leva a defender que só criando uma “sociedade sóbria” onde os recursos são valorizados e o consumo reduzido poderemos evitar essa atracção do abismo até ao desfecho final.
Durante cerca de 1 hora, Pachauri desfilou um conjunto de estatísticas que já ninguém pode dizer que não conhece. 1,2 mil milhões de pessoas a viver com menos de 1 dólar por dia no mundo, 1,6 mil milhões de pessoas a viverem sem acesso á electricidade, 700 milhões de pessoas a viverem sem acesso a água (número que pode ascender a 3 mil milhões em 2025), crescimento populacional, urbanização, aumento do consumo de carne, cereais e lacticínios decorrente da entrada de países como a China e a Índia no padrão de consumo ocidental, aumentos previstos da temperatura média entre 1,8ºC e 6,4ºC (sendo que basta um aumento entre 1,5ºC e 2,5ºC para que aconteça a extinção de 20 a 30% das espécies actuais).
Com o aumento da temperatura e a subida do nível das águas, o Ártico, África, as ilhas pequenas, América Latina e o sul da Ásia são regiões especialmente afectadas. O fardo do homem branco vira-se agora do avesso. O rico hemisfério Norte prevalece como “zona protegida” da primeira frente da intempérie climática/ambiental, mas não escapa às consequências humanas de grandes fluxos migratórios, pressão sobre a terra e consequências inevitáveis na vida das sociedades. A sustentabilidade, como já sabia o meu professor de ciências, atravessa toda a cadeia. Tem a ver com os bichinhos, com as plantas, com o ar, mas inexoravelmente bate sempre à porta do destinatário homem.
Uma sociedade mais sóbria. Menos consumo. Menos lixo. Melhor energia. Uma nova ideia do que significa bem-estar. Foi disto que Rajendra Pachauri veio falar a Lisboa. O que é que se faz quando estamos à beira do precipício?
Trava-se – mas não chega. É mesmo preciso fazer inversão de marcha.

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