terça-feira, 2 de junho de 2009

Previsivelmente irracionais ou porque por vezes achamos que não faz mal mentir e enganar



As notícias do último ano sobre fraudes financeiras, gestores que enganam clientes e accionistas, processos pouco claros de relação com o mercado colocaram a questão ética na ordem do dia. A verdade, porém, é que se todos temos presente que é fundamental fazer um "back to basics" em termos de princípios de actuação, nem sempre, na realidade endurecida pela crise, essa orientação é facilmente seguida. Ser ético significa, tantas vezes, fazer aquilo que nos apetece menos.
Há alguns dias, um membro da comunidade Linkedin colocava à consideração um artigo sobre um estudo em que 25% dos gestores afirmavam estar dispostos a subornar para ganhar um cliente ou um negócio. Ao comentar o artigo, referi que me parece difícil que se passe, num passo só, do estado "ético" ao estado de suborno. O que significa que no caminho deverão certamente ter existido passos intermédios e que algumas culturas organizacionais, em nome do pragmatismo, estimulam esses passos intermédios ... ficando depois muito espantadas quando alguém vai, como se costuma dizer, longe demais.
lembrei-me então de um email que me tinha sido enviado há umas semanas sobre uma das TED Talks. Um economista do comportamento, Dan Ariely, fala nesta conferência sobre as nossas decisões previsivelmente irracionais. Como a de fazer batota. E, através do relato de várias situações e experiências, demonstra algumas evidências:
1. Todos precisamos de olhar ao espelho e gostar de quem vemos (o que inclui não fazer batota)
2. Mas se fizermos apenas um pouquinho de batota isso não muda radicalmente a nossa imagem (é um passo intermédio)
3. Se alguém do nosso grupo fizer batota, torna-se mais fácil também para nós fazer batota (o que tem a ver com a cultura organizacional)
4. Quanto maior foi a distância do objecto do dinheiro, mais fácil se torna fazer batota (daí que a Bolsa, pela sua imaterialidade, seja um território tão apetecível)
5. Quando nos lembram dos princípios morais, fazemos menos batota (o que implica que a ética é uma coisa viva, do dia-a-dia e não uma palavra guardada nos grandes momentos)

Por tudo isto, vale a pena ouvir esta conversa, com momentos de grande diversão e que nos leva até àquele espaço recôndito do nosso cérebro onde decisões aparentemente irracionais encontram toda a legitimidade para serem assumidas.

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