sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Nunca entrevistem alguém modesto



Entrevistar é um dos maiores prazeres de ser jornalista. Falo por mim, claro, mas acredito que quem não tem a curiosidade da pergunta, dificilmente pode ser jornalista. Na entrevista, a curiosidade da pergunta - que é diferente da curiosidade da resposta - pode tornar-se um frenético ping-pong ou o mais aterrador dos palcos. É garantidamente dos silêncios mais ensurdecedores aquele que se "ouve" a um entrevistado. Mas o que Marc Pachter nos traz nesta TED Talk, indo bem além do exercício do jornalismo, é absolutamente convergente com um sentimento que por vezes já expressei, nomeadamente quando modero uma conferência ou quando entrevisto alguém diante de uma assistência. Não há duas conferências ou entrevistas iguais, mas quando corre bem, fica um sentimento muito bom de realização. Cumpriu-se algo. Contou-se uma estória. Materializaram-se momentos que até aí existiam apenas na vivência do outro, o entrevistado. E nas vezes que isso acontece o meu sentimento, enquanto entrevistadora, é que nada disto está nos manuais de comunicação ou de jornalismo ou outros.A técnica só existe para nos podermos esquecer dela e numa entrevista, como diz Pachter, o que conta mesmo é a empatia. Empatia não significa subserviência ao entrevistado, nem colagem às suas posições. Significa que estabelecemos contacto, de alguma forma, e que chegámos ao outro lado. Pachter vai mais longe e diz que é determinante "sentir o que o outro tem para dizer" e tornar-se "agente dessa comunicação". Mais determinante, diria eu, é a sua observação sobre a saída da "concha" do "public self". "Todos nós temos infomercial de nós mesmo que é aquilo que publicamente dizemos que somos e que fazemos. A boa entrevista acontece quando nos tornamos privados, quando vamos além do infomercial". E não é nada fácil nesta mediocracia em que todos preparamos o nosso "statemeent", o testamos e ensaiamos.
Verdadeiramente extraordinária é a observação que este TED Talker faz sobre as pessoas que convidamos para uma entrevista. "Nunca convidem uma pessoa modesta. Os entrevistados têm de ser pessoas que acreditam que têm uma história interessante para contar e que a querem partilhar".
Marc Pachter foi responsável pelo projecto "Living Self Portraits" no Smithsonian onde entrevistou dezenas de pessoas imodestas cuja memória garantiu às gerações futuras. Eu não me importava mesmo nada de fazer o mesmo (a entrevista, bem entendido).

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