domingo, 29 de março de 2009

"A parte criativa da inovação é demasiado perigosa"

Na edição de sábado, 28 de Março de 2009, José Vítor Malheiros entrevistou no PÚBLICO Gordon Torr, que durante mais de 20 anos foi director de criatividade da J. Walter Thompson e antes disso, talhante, professor de liceu e jornalista (não necessariamente por esta ordem).
Gordon Torr começa por se afirmar desiludido cada vez que liga a televisão ou abre jornal. Diz que o conhecimento existente e os recursos tecnológicos deveriam estar a gerar uma verdadeira era de ouro na criatividade multimédia e isso não acontece. Que o YouTube tem volume, mas não tem qualidade. E que, por paradoxal que possa parecer, a “culpa” deste estado das coisas pode estar no endeusamento da criatividade (tal como da inovação) que, na realidade, se traduz na sua banalização.
E este é um ponto muito interessante de se discutir. O especialista de criatividade não acredita que todas as pessoas sejam igualmente criativas ou que possam, desde que estimuladas e/ou ensinadas, ser igualmente criativas. E esse tem sido um discurso recorrente nos últimos anos, como parte da construção de uma sociedade de inovação e criatividade. Ou seja, para termos mais e mais recursos criativos, transformamos a criatividade numa commoditie acessível a todos. Fará isto sentido?
Diz Torr: “As empresas não gostam de inovação. A cultura empresarial detesta mudança seja de que tipo for e toda a criatividade é mudança”. Honestamente, alguém pode discordar em absoluto? Generalizações e episódios são perigosos na justa proporção, mas não resisto a contar brevemente a estória do “funcionário” cinzento – que toda a vida será funcionário cinzento – mas que um dia por bons ofícios numa grande empresa recebe como prémio coordenar ... uma equipa de criativos. E se no capítulo coordenação, a nomeação poderia ter tropeçado na competência, a realidade é que à semelhança de tantos outros, uma vez nomeado, o “funcionário” acha-se ele próprio um criativo e começa a ter ideias que são, como todos também sabemos, o mais fácil de se ter. Difícil é que façam sentido, sejam consequentes e sobretudo signifiquem algo de novo para alguém –no caso das empresas, o público a quem se destinam.
Regressando à entrevista de Gordon Torr: “A inovação que as empresas gostam é acrescentar uma quinta lâmina na máquina de barbear. E a grande inovação do ano que vem será acrescentar uma sexta lâmina. Não é criatividade, não tem nada a ver com criatividade. As empresas tentam ter inovação sem criatividade. Porque a parte criativa da inovação é demasiado perigosa”.
Tanto mais perigosa, quanto os “tipos” com ideias diferentes podem ser, e são na maior parte das vezes, ameaçadores para a maior parte das organizações – “as nossas empresas não conseguem aceitar as pessoas mais inconformadas, as que resistem à autoridade”.
Podemos nos conformar com isto? Podemos deixar que os nossos melhores cérebros se percam no mundo empresarial por inaptidão para construir um percurso numa lógica empedernida de carreira e obediência?
Torr fala atambém de um trabalho realizado – “the ten year wait” que evidencia que artistas, músicos, pintores cientistas fazem o seu melhor trabalho depois de terem trabalhado numa determinada área durante 10 anos. As empresas não têm esse tempo – os ciclos são curtos, curtíssimos, correspondem aos famosos prémios dos anos fiscais ou, nas vistas um pouco mais largas, à duração de um mandato de gestão.
O xadrez fica ainda mais complicado quando se soma o factor incentivo. Para muitas organizações, atirar dinheiro a um problema continua a ser a forma de ter resposta. Problema! É que os mais diversos estudos mostram de que dinheiro é importante, claro que sim, mas vem depois de coisas que não custam dinheiro mas atitude: desafios, flexibilidade, continuidade nos projectos. Imagine-se só! Sem gastar um tostão podiam motivar-se engenheiros, professores, artistas, cientistas a dar o seu melhor.
Um nota mais para um tema que António Câmara abordou de forma muito concreta numa conferência proferida no Instituto Superior de Gestão. Dizia ele que o nosso sistema de ensino está focado em encontrar solução para problemas. Paralelamente, por norma, não se gosta nem um bocadinho daqueles que criam problemas. E essas são pessoas fundamentais, as que criam de facto novos paradigmas por identificarem situações antes de acontecerem e permitirem providenciar soluções antecipadas.

“... o Tim Berners-Lee não estava a tentar resolver um problema quando inventou a World Wide Web. Nem lhe tinham pedido para inventar a Web. Quando ele mandou uma nota ao seu chefe com as suas primeiras ideias sobre a Web, o chefe respondeu-lhe com outra nota: ‘vago, mas interessante’.


Proteínas, vitaminas e outras estórias da economia do mundo


Há casualidades felizes e esta foi uma delas. Ontem cheguei de Londres e em cima da mesa de cabeceira encontrei um livro comprado há algum tempo e que estava na lista daqueles, que infelizmente são bastantes, que ainda não foram lidos e quase não manuseados. “Alimentação saudável, alimentação segura”, da professora Isabel do Carmo, foi decerto comprado num daqueles acessos, frequentes nas mulheres, de tenho-de-perder-5-quilos. Pelo título e pela autora, foi porventura um dos acessos racionais o que se poderia traduzir em “tenho-de-aprender-a-comer-como-deve-de-ser-para-perder-5-quilos” e não “tenho-de-perder-5-quilos-numa-semana”.
O que importa, na realidade, é que o livro é muito mais do que isso. Uma verdadeira abordagem holística ao mundo dos alimentos que nos leva numa viagem pela história, economia, religião e politica para assim nos fazer compreender o valor e significado do que comemos.
Alguns exemplos da sua extraordinária contemporaneidade com os temas da economia internacional. Sobre a soja. A soja é o cereal mais cultivado nos Estados Unidos cujo marketing tratou de lançar eficientemente como produto de consumo. Como o fez? Associando a soja a um estilo de vida oriental, new age e colando dessa forma o alimento a uma dieta saudável e equilibrada. Particularidade: nos anos 60, a Índia cultivava 0% (zero!) de soja. Em contrapartida cultivava hectares e hectares de flor de mostarda a partir do qual é produzido o óleo de mostarda. Em 1998, a mesma Índia já cultivava 6 milhões de hectares de soja e tinha reduzido para metade a produção de mostarda. Nesse mesmo ano, em Julho é anunciada a importação no Rajasthan de 1 milhão de toneladas de soja. Dois meses depois, em Setembro, uma tragédia mata 41 pessoas e afecta outras 2300 por causa do consumo de mostarda. A tragédia chamava-se hidropisia e atingia fígado, rins e pulmão e morte por insuficiência cardíaca. Mulheres de vários bairros indianos criaram movimentos para defender a produção local de mostarda face à soja e a associação de produtores do Rajasthan insistiu na existência de conspiração. Como diz a professora Isabel do Carmo, à Índia e a à China “inventaram-lhes” a soja e hoje a percepção da sua orientalidade é para muitos um dado adquirido.

Mudando de continente e de factoide, vamos ao porco. Curiosamente transformado pela história dos alimentos em símbolo de união de muçulmanos, judeus e cristãos. Quem diria! Para os dois primeiros trata-se desde o princípio dos tempos de um animal impuro e o papa Gregório III declarou, séculos mais tarde, igual sentença para os católicos. A culpa não é do bicho, está bom de se ver, cuja carne é bem gostosa, mas sim da triquinose, um parasita passível de liquidar a 70ºC de temperatura..

De volta à história, chegamos à génese do pão. O primeiro cereal cultivado foi o sorgo que ainda hoje mata muita fome em terras esquecidas. Na China era cultivados desde 2800 .c.. O trigo era colhido desde a revolução neolítica por chineses e depois egípcios mas terão sido os sírios os primeiros a plantar a sua semente. O Antigo Egipto é aceite como a primeira pátria do pão cuja importância na vida dos povos foi de tal ordem que o salário de um trabalhador rural era pago em 3 pães e 2 cervejas. E os que não tinham trabalho ... estendiam a mão a pedir pelo pão. Mais curiosidades: a 1ª greve pelo pão acontece também no Egipto. Jesus nasce em Belém – Beth-lehem que significa casa do pão e a oração que ensina pede o pão nosso de cada dia numa época em que a muitos faltava o alimento.

De regresso ao presente, Isabel do Carmo leva-nos a reflectir sobre o flagelo da obesidade, nomeadamente nas crianças e o papel do grande consumo na prevenção dos hábitos alimentares. A revista médica The Lancet lançou uma campanha de alerta contra marcas como a Pepsi que usa figuras como o futebolista David Beckam ou a estrela pop Britney Spears, ou as batatas fritas Walkers promovidas por Gary Linecker e as Pizza Domino que patrocinam a série infanto juvenil The Simpsons. Está tudo ligado na grande roda dos alimentos e da vida.

A propósito da vitamina C, a autora conta a história corajosa de Linus Pauling, o único laureado com 2 prémios Nobel, o da Química, em 1954, pela descoberta da estrutura das proteínas, e o da paz, em 1962, pelo combate anti-nuclear. Dele, Einstein diza que era um génio e a vitamina C foi um doa alvos das suas pesquisas e, mais do que isso, da sua utilização em doses superiores às 60 mg ainda hoje recomendadas. Pauling morreu aos 93 anos e a informação sobre o seu trabalho pode ser encontrada no site do Instituto Linus Pauling.

Todas estas estórias são excelentes aperitivos para o prato servido por Isabel do Carmo. De onde ficamos a saber que as natas são menos gordas que a manteiga, que a carne picada deve ser cozinhada de imediato e que devemos desconfiar dos bifes que se enrolam na frigideira (significa que estão a perder água e isso é sinal de uso de hormonas na alimentação dos animais). Boas notícias para economia e para a barriga quando se sabe que Portugal é o pais da Europa que consome mais peixe, bem como no que respeite ao tomate, trazido até nós por aztecas e maias, e hoje o fruto mais produzido no mundo.

Este vídeo foi produzido por alunos do 12º ano da Escola Garcia da Orta, no Porto

quinta-feira, 26 de março de 2009

Já não é um negócio de principiantes, mas ainda não perdeu essa graça

Durante três dias vou estar em Londres, no IPTV Forum, uma mostra de projectos de IPTV e tecnologias de suporte e um painel de conferências que junta vários especialistas do sector e protagonistas de estórias de negócio. Lado a lado com os gigantes Cisco, Microsoft e Ericsson, com apostas interessantes, estruturadas e estratégicas para os seus negócios, estão centenas de fazedores desta nova era de media. E é por isso que no Olympia se continuam a encontrar pessoas como David Harper, head of business development da Global Digital Broadcast, uma pequena empresa britânica que fornece plataformas integradas de tv/vídeo online para projectos em locais tão diferentes quanto Brighton, UK, Chicago, Canadá, Filipinas ou Brunei. Um negócio de família, com o pai à frente da área comercial, e o filho de pouco mais 20 anos em backoffice. Digital divide? Por aqui não se diria. Duas gerações, o mesmo negócio e talvez a fórmula que a indústria de new media tanto procura: a dose ideal de experiência e juventude.
Vamos continuar por cá.

terça-feira, 24 de março de 2009

A elegância da electrónica

Há cerca de duas semanas recebi um convite para o 45º aniversário do Instituto das Novas Profissões. Por motivos de agenda não me foi possível estar presente e fiquei com pena. Para além da cortesia do INP, a convidada de honra da sessão solene foi uma senhora que tenho alguma curiosidade em conhecer, face ao trabalho que realiza e à persistência, tão necessária em Portugal. Trata-se de Elvira Fortunato, a cientista portuguesa que recebeu a maior bolsa de investigação científica europeia, o prémio do European Research Council pelo trabalho desenvolvido no desenvolvimento de transístores em novos materiais, alternativos ao silício.
Para além dos 2,5 milhões de euros do prémio que permitirá que em Portugal seja instalada uma verdadeira base de desenvolvimento dos novos materiais, a cientista patenteou uma descoberta, decorrente da sua investigação: a criação de transístores em papel. Para quem não está bem a ver o que isso pode querer dizer, basta dar uma imagem: com o desenvolvimento desta solução poderemos, por exemplo, ter imagens animadas nos nossos tradicionais jornais em papel. Entre tantas outras aplicações.
Inovação. Em português. Por portugueses.
Reconhecida internacionalmente, mas ... sem resposta da nossa comunidade empresarial.
Não tenciono entrar aqui literalmente na conversa do costume. Pois, os empresários portugueses, sem visão, que não investem, que só se queixam. Não acho nada disso. Temos, felizmente, muitos empresários que investem e que procuram soluções criativas nas mais diversas áreas.
Infelizmente aqui não foi o caso e o trabalho de Elvira Fortunato vai ser dinamizado por uma empresa brasileira, a Suzano. A investigadora ficou decepcionada e conhecendo a história é difícil que qualquer português não fique.
Há quem diga que as ideias não têm pátria, são património do Homem. É uma forma de ver as coisas ou, como se costuma dizer, por em perspectiva.

sexta-feira, 20 de março de 2009

The Mom Song - um parque infantil no campus

O estudo de duas professoras, duas mulheres, da Universidade de Berkeley – Haas School of Business deixa pistas que dão que pensar. Catherine Wolfram e Jane Leber Herr descobriram na sua pesquisa – intitulada "Opt-Out Patterns Across Careers: Labor Force Participation Rates Among Educated Mothers" – que 28% das mulheres que completaram MBA em Harvard, 15 anos depois são, por opção, mães a tempo inteiro. A percentagem de gestoras que vai para casa é substancialmente superior à de médicas (6%) e mesmo advogadas (21%).
O estudo acompanhou o percurso de cerca de 1000 mulheres com MBAs concluídos em Harvard entre 1988 e 1991 e compilou um conjunto de dados biográficos e de indicadores.
O compromisso entre carreira e família afigura-se efectivamente mais difícil de atingir no mundo dos negócios. Há um número significativo, por exemplo, de mulheres médicas a exercerem em regime de part-time, mas essa solução é virtualmente impraticável para quem trabalha na banca e consultoria.
Numa era em que 2/3 dos alunos em praticamente todas as universidades do mundo são mulheres, a pressão aumenta para que surjam novas soluções no mercado de trabalho e na própria universidade. Segundo dados de 2007 nos Estados Unidos, 31% dos participantes nos 25 programas de referência de MBA em regime de full time são mulheres e o desafio passa por saber conservar estas mestres de gestão no activo quando formam família ou se já têm essa condição.
Para responder a estas necessidades, algumas escolas de gestão estão a criar novas estruturas integradas no campus, como organizações para apoio à família e parques infantis, e disponibilizam ajuda na re-colocação dos estudantes após o curso. É por exemplo o caso da Northwestern's Kellogg School of Management, mas parece certo que outras lhe seguirão as pisadas.

Publiquei hoje, a 20 de Março de 2009, este artigo no Jornal de Negócios num dossier especial sobre MBAs. O vídeo The Mom Song é uma ilustração tão verdadeira e tão absolutamente quotidiana da vida de milhões de working mothers que foi irresistível usá-lo.
Ontem foi Dia do Pai e, felizmente para as working mothers e para as non-working-but-still-working mothers, também existem pais que fazem justiça a uma Dad Song.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Ram Charanem Lisboa: Gestores, sejam optimistas!

Ram Charan, considerado um dos conselheiros mais influentes do mundo dos negócios, é um homem realista, mas optimista. Foi essa a mensagem que trouxe a Lisboa, onde participou numa CEO Conference que contou com a presença de vários líderes nacionais, como Belmiro de Azevedo, Zeinal Bava, João Talone e Paulo Fernandes.
Na mesma manhã em que a FED anunciava publicamente que, se os bancos cumprirem o seu papel na libertação de crédito, a economia pode recuperar já nos primeiros meses de 2010, Charan partilhou com os gestores nacionais a sua visão do futuro. Um futuro onde cada vez mais vai ser preciso exercer liderança, entendida pelo consultor como a capacidade de conseguir que as coisas sejam feitas.
Aos gestores, Ram deixou várias mensagens simples e claras: liderem, sejam credíveis, inspirem as vossas pessoas e abordem a realidade com optimismo. À beira dos 70 anos de idade e com cerca de 45 anos de experiência de campo com algumas das principais empresas do mundo Charan falou de um mundo onde as qualidades humanas são cada vez mais fundamentais para o sucesso e para uma vida melhor. Nas empresas, na sociedade, no ensino: "we need teachers, because teachers teach and computers don't".
Este vídeo está também disponível em www.publico.pt

domingo, 15 de março de 2009

Think different - remember this one?

Na semana passada teve lugar a conferência The New Marketing Rules na Exponor, organizada pela QSP.
Bela novidade ter um cabeça de cartaz português entre os 3 oradores principais. Na realidade, Luís Reis, COO e administrador da Sonaecom, fez bem mais do que ser "o" português entre os speakers internacionais Miklos Sarvary e Kevin Keller. Luís Reis foi, na verdade, a estrela da sessão, com uma apresentação cheia de energia, provocação e matéria para pensar e fazer diferente que deveria ser o principal motivo porque se assiste a uma conferência.
A sua intervenção "Brands that make sense" vai estar disponível, bem como uma entrevista, no Videonomics, mas hoje quero aqui deixar um dos momentos da sua apresentação. A famosa campanha do Mac - Think Different foi um dos mais interessantes exercícios de diferenciação e posicionamento numa era em que não se falava de inovação como critério de sobrevivência (ainda que sempre o tenha sido).
Marketing inteligente que sabe sempre bem recordar.
Uma nota ainda sobre o tema dos speakers. Trazer gurus internacionais é um negócio. Cá como em tantos outros mercados, a começar pela pátria de 90% dos gurus, os EUA que tem aqui uma das suas indústrias.
Se pensarmos nos valores cobrados, que rondam mínimos de 25 mil euros para aspirantes a gurus ou novatos promissores a 150 mil para estrelas consagradas, valerá a pena reflectir sobre a (in)existência de portugueses como figuras de primeira linha (até há poucos anos, Ernâni Lopes e António Borges eram dos poucos nomes nacionais que efectivamente cobravam a sua presença em conferências, indicador fundamental quando se avalia o nível de profissionalização de qualquer sector). Não é por falta de qualidade seguramente. No mundo académico e no mundo das empresas, só para referir dois eixos fundamentais, temos pessoas de grande qualidade e com conhecimento e valor para partilhar. E, se em encontros de quadros já ninguém se espanta de pagar cachet a treinadores e outros atletas, valerá a pena alguma reflexão e sobretudo alguma inflexão.

Tim Berners-Lee - Freedom to connect!

Na data em se assinalam os 20 anos da "invenção" , Tim Berners-Lee, o "pai" da internet fala-nos de liberdade para nos ligarmos como a base da sociedade que construímos nas últimas duas décadas. Os conceitos de Net Neutrality e de Freedom to Connect são temas para um debate filosófico que sem dúvida marcará os próximos anos.
Espero que muito em breve o Videonomics possa reunir à mesa filósofos, tecnológos, empresários, governantes e cibernautas para dar voz, em português, a este debate.
Até breve

P.S. - Interessante a pesquisa da Wharton School da Universidade da Pensilvânia que coloca a internet em 1º lugar na lista das invenções mais importantes dos últimos 30 anos, à frente do PC, do telemóvel e do email (mas todos absolutamente relacionados como bem sabemos; communication rules the world).
Democratização is the name of the game e também por isso a discussão lançada por Berners-Lee é tão interessante, atendendo ao seu papel nesta revolução.
Para saber mais ler o post de Ricardo Castanheira no Criar 2009

quarta-feira, 11 de março de 2009

A geração mais idiota é a geração que vai mudar o mundo

“Hey, idiota. Se és um adolescente ou tens menos de 30 anos fazes parte da Dumbest Generation (Geração mais idiota) e a razão é a Internet. O crescimento digital está a impedir o desenvolvimento do teu cérebro. A vossa não geração não sabe ler, escrever, comunicar. Vocês não sabem nada.Pior que isso, estão viciados na internet, colados ao ecrã e perderam a capacidade de interacção social. São igualmente uma geração obscura, desrespeitam os vossos pais, roubam, violam direitos da propriedade intelectual dos indivíduos sem consideração pelos direitos de autor de músicas e outros conteúdos. São violentos e um bando de rufias. São a geração que não se importa. Não votam, não se preocupam com a vossa narcísica eu-geração. Tudo aquilo com que se preocupam é o vosso MySpace, Youtube e Facebook. E por causa de vocês o futuro não traz consigo esperança. O meu nome é Don Tapscott e conduzi uma investigação sobre a vossa geração, um projecto de investigação no valor 4 milhões de dólares. Concluí que todos os críticos da vossa geração estão basicamente a inventar esta informação. Esta visão negativa e cínica não é suportada por dados. Vocês não são a geração mais idiota, são a geração mais inteligente. E assim que se desloquem para cada instituição e sociedade, serão uma poderosa força para a mudança, mudança essa para melhor. Espero que considerem o meu livro,Grown up Digital como uma fonte esclarecedora neste assunto e convido-vos a visitarem o site: grownupdigital.com, gostaria de saber a vossa opinião sobre este assunto.

Don Tapscott tem dado dos contributos mais interessantes para a compreensão da revolução digital e, mais do que isso, da mudança que está a provocar na humanidade aos mais diversos níveis, económicos, políticos, culturais ... you name it. Tapscott estuda os "nativos digitais" desde 1997 e tem uma colecção de dados e de trabalho como poucos. (Diga-se em abono da verdade, que também como poucos tem a felicidade de ter um generosíssimo orçamento que financia as suas pesquisas).
Este vídeo surge como resposta ao livro The Dumbest Generation ou Don't Trust Anyone under 30, de Mark Bauerlein, uma espécie de arqui-rival da Tapscott e profundamente descrente dos méritos da Google-generation, ou seja todos aqueles que têm hoje entre 12 e 30 e que não lêem, scanneiam informação, não vêm publicidade, trocam posts nas redes sociais, não compram CDs ou filmes porque pirateiam.
A estória de Joe O'Shea que Tapscott contou em Lisboa aquando do lançamento do Ano Europeu da Criatividade e Inovação deixaria decerto os mais cépticos com algo em que pensar.
Segue-se excerto que poderão ver tal como toda a conferência na íntegra no site Criar2009 e claro, a partir de Abril, no Videonomics TV.

"Estava a fazer um discurso para um pequeno grupo de alunos do curso de gestão da Universidade da Florida, em Junho passado. E eles estavam a pedir conselhos sobre como construir uma universidade para o século XXI. Disse-lhes que o modelo de aprendizagem era inapropriado para esta geração. Eles cresceram interagindo e colaborando e o modelo de difusão da aprendizagem está a falhar. (...) Estávamos a ter esta conversa e havia um jovem que estava na sala, Joe O’Shea com uma boa apresentação, usando uma gravata, que estava a formar-se nesse mesmo ano cujo comentário é requisitado. E o Joe disse: “Tenho de concordar. Acho que nós aprendemos de uma forma distinta. Vou dar-vos um exemplo. Eu não leio livros.” O ar de espanto no rosto de toda gente era semelhante ao de todos vós nesta sala. Ele disse: “Eu acho que sei aquilo que os livros contêm, mas eu não os leio. Recorro à internet para obtenção de conhecimentos e em caso de necessidade de um livro físico recorro ao Google Books e procuro o capítulo específico. E caso tenha um livro físico eu não o leio do princípio ao fim, utilizo a mesma estratégia usada nos websites".
O reitor da faculdade que se encontrava ao meu lado perguntou-se se isto significava algo bom e positivo ou o fim da civilização. Eu tinha um charter reservado para Fort Lauderdale e o Joe seguia para o mesmo local. Assim sendo, convidei-o para se juntar a mim para que pudéssemos conversar e para que eu tivesse a oportunidade de o conhecer melhor.
“Joe, fala-me da escola? És um bom aluno?” e ele disse: “Sim, sou um bom aluno”, eu perguntei: “quão bom?” ao que ele respondeu “sempre tive A’s”. Eu disse: “Que mais é que fazes?” e ele respondeu: “Sou presidente do conselho de alunos na Universidade do Estado da Florida”. E eu disse-lhe que deveria ser uma grande responsabilidade ao que ele respondeu que tinha ao seu dispor um orçamento de 12 milhões de dólares e um comité envolvendo 18 universidades. Eu perguntei-lhe se ainda tinha tempo para fazer mais alguma coisa ao que ele respondeu que após o furacão Katrina tinha viajado até lá para ver os estragos feitos; foi assim que se apercebeu da ausência de uma clínica de saúde e decidiu montar uma. Perguntei-lhe o que isso significava e ele disse que se poderia fazer tudo o que se quisesse quando se tem a internet. Se quisesse um ar condicionado poderia ter um ar condicionado. Perguntei se a clínica ainda estava operacional e ele respondeu que sim e que consultava 9 milhões de pessoas por ano.
Seguidamente, pedi para que me falasse da sua família. Ele disse que era um assunto delicado dado que os seus pais haviam falecido no ano passado sendo que Jon enquanto irmão mais velho tinha como obrigação manter a família unida. Perguntei-lhe como o fazia sendo que viviam em cidades diferentes ao que ele respondeu que todos jogavam WOW juntos, faziam missões juntos, matavam dragões conjuntamente.
Após isso, perguntei-lhe o que faria no ano seguinte e ele disse que iria estudar em Londres, Inglaterra (...) perguntei-lhe o que iria estudar ao que ele respondeu que se encontrava a fazer um mestrado em Filosofia. E não lê livros. Quis saber em que universidade e ele disse que iria para Oxford. O local de mais difícil acesso em todo o mundo para se fazer um mestrado em filosofia. E ele conseguiu! Quis também saber se estava a receber alguma ajuda financeira e ele disse que tinha uma bolsa de estudo que cobria tudo. Uma “Rhodes Scholarship”. A Rhodes Scholarship é a mais prestigiada bolsa de estudo que um aluno pode obter no planeta Terra. O Bill Clinton teve uma. E única Rhodes Scholarship do sudoeste dos EUA foi dada a um jovem, Jonh O’shea, um jovem de 20 anos que não lê livros.

Tapscott terminou a sua conferência em Lisboa dizendo que os próximos tempos não serão aborrecidos. Alguém duvida que ele tem razão?

domingo, 1 de março de 2009

Slumdog Millionaire - Não é para ter pena da Índia

Este post é um remix da anterior, mas com locução sobre as imagens de apresentação do filme Slumdog Millionaire. E reforçando a ideia . esta não é uma Índia para se ter pena, mas sim uma Índia onde podemos aprender novos e urgentes sentidos para a palavra inovar, fazer diferente, ter esperança.